José Manuel Dias da Fonseca, presidente do Conselho de Administração da Casa da Música, no Porto, lamenta que "a cidade trate mal os seus heróis". A violoncelista Guilhermina Suggia, o poeta Eugénio de Andrade ou a pianista Helena Sá e Costa são apenas alguns exemplos de prova.
Ricardo Pais, director do Teatro Nacional S. João, lamenta que a autarquia trate mal os artistas. "Ninguém pode ser acusado de não ser um grande artista por não ter muito público". Aliás, argumentou, "os números das audiências são sempre escabrosamente manipulados, porque a Câmara não tem capacidade analítica".
Os responsáveis por dois dos mais importantes equipamentos culturais do Porto foram os convidados do debate "Quantas peças à procura de um actor?" , realizado anteontem à noite na Universidade Católica, subordinado à política cultural da cidade e moderado por Manuel Carvalho, director adjunto do "Público". Mas o encontro, o último da quarta edição do ciclo de conferências "Olhares cruzados sobre o Porto", promovido pela Católica e pelo "Público", não foi tão elucidativo como seria expectável.
As questões do moderador - Qual é o papel dos privados, das autarquias e do poder central na dinamização cultural de uma cidade? Qual é a tendência da vida cultural do Porto a médio prazo? Que modelos deveriam ser seguidos para a afirmação do Porto? A cultura é um instrumento de competição entre as cidades? - ficaram quase sem resposta. Os dois oradores foram evasivos, optando por dissertar sobre as experiências de sucesso de cidades europeias como Berlim, Helsínquia, Londres ou Viena, onde a cultura determina a dinâmica do turismo.
Mas a ausência de soluções já estaria antecipada na plateia, curta, ensonada e desprovida de agentes culturais. O público, maioritariamente constituído por pessoas com uma média de idades de 50 anos, levantou, apenas, duas questões. O moderador havia disponibilizado três séries de três perguntas cada.Dias da Fonseca e Ricardo Pais estiveram em sintonia na aversão à "animação cultural". "A animação resulta muito da conjuntura faz-se quando há dinheiro; desaparece quando não há. Temos que apurar mais o lado estrutural do que o conjuntural", avançou o responsável pela Casa da Música.
Ricardo Pais corroborou: "Detesto a animação cultural. O Porto 2001 serviu apenas para fazer o saneamento básico: colocou de pé coisas enormes como a Casa da Música, mas faltou a rede de distribuição de informação que é devida às companhias de teatro da cidade e a outras estruturas. É curioso", acrescentou, "falar-se em subsídios quando os subsídios não chegam sequer para fazer face às despesas correntes". Paralelamente, instituições maiores, como Serralves, por exemplo, têm sido sempre poupadas à contenção financeira. "Tenho medo que se transformem em ilhas de um lago sem água, absorvendo de tal maneira a atenção, que se esgote ali a vida cultural de uma região", concluiu Dias da Fonseca.
Sem comentários:
Enviar um comentário