Não é o filme do ano. E não, realmente não é o "Lost in Translation". Entrou, discreto, nas salas de cinema; saiu rapidamente com a mesma discrição. Não é suficientemente denso para figurar nas obras de minorias, nem suficientemente vazio para ser uma comédia romântica, apesar de estar catalogado abaixo disso e, em alguns momentos, aparentar ser apenas isso. Steve Martin (realizador, argumentista e protagonista num só) também não é Bill Murray (deveria ser?). E o final, ao contrário do que está escrito nas críticas dos críticos, não é feliz. Não é feliz, porque não pode ser feliz a rapariga (Claire Danes) que opta pelo homem que a ama (Jason Schwartzman) e não pelo homem que ela ama (Steve Martin, himself). Aliás, não chega a ser uma opção; é uma solução de recurso. "Aprendi que as relações com baixa densidade têm vantagens", diz ela, a Mirabelle, no fim. É a desistência do amor.
E não é só ela, a vendedora de luvas quase adolescente que aspira a ser reconhecida pelos seus desenhos, que desiste. A incapacidade de amar é também uma desistência. E Ray Porter, divorciado e bem sucedido empresário de meia-idade, não tem esse dom. Ou, se alguma vez o teve, perdeu-o.
Reduzir o filme de Steve Martin (mesmo reconhecendo que será um filme-terapia para o próprio) a uma história pobre e previsível é injusto. Previsível poderia ser Mirabelle encantar-se com o espírito rebelde do jovem músico Jeremy, com quem acaba por ficar, e desprezar o perfil envelhecido de Porter. Ou então, conseguir converter Porter a uma vida monogâmica. Não é isso que acontece: Ray Porter encanta-se, mas não se entrega. Mirabelle apaixona-se, mas aceita a rejeição quando exige exclusividade. É a vida tal como ela é. E a vida nem sempre é previsível.
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