domingo, fevereiro 05, 2006

O homem do piano, capítulo 7319

Burmester à presidência, já! Seja lá do que for! O homem do piano é demasiado perigoso para andar à solta ou ser contrariado!
1) Para começar, é um delegado político do Governo. E todos sabemos como o jovem Sócrates tem mau feitio quando mordem os calcanhares do seu séquito;
2) Depois, esteve vários anos na Casa da Música (o último dos quais como consultor de programação) e nem um esqueleto da programação de abertura deixou feito - isto, apesar do seu sucessor, o digníssimo Anthony Withworth-Jones ter confessado, múltiplas vezes, ter-se inspirado vagamente no esboço do antecessor. Mas os britânicos, enfim, são tontos e muito generosos!
3) Além disso, o homem do piano, que inventou em tempos uma coisa chamada Serviço Educativo e que, por acaso, fez com que pessoas que nunca imaginaram ouvir e perceber ópera a ouvissem, a percebessem e, mais do que isso, a integrassem e se apaixonassem por ela, não tem qualquer competência para a área da educação.
4) Mais: o homem do piano, tendo sido banido da Casa da Música (Casa que, também por um mero acaso e, quem sabe!, por obra e graça do Espírito Santo, idealizou e estruturou ao pormenor), continua à distância a controlá-la, a influenciar maquiavelicamente a sua organização.
5) Mais importante ainda: o homem do piano manipula o próprio Presidente da República (ex-presidente daqui a alguns dias) para que rediga discursos públicos em benefício da sua imagem.
6) Exerce forte ascendente sobre o próprio Governo e o Conselho de Administração da Casa da Música a ponto de lhes exigir que o nomeiem director artístico.
7) Gravíssimo, o homem do piano diz mal dos seus colegas, acusa-os de desvirtuarem o projecto, dá mesmo a entender - malvado! -, que o projecto é dele.
8) O homem do piano, que só pode estar louco, chegou mesmo a insultar o igualmente digníssimo presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Rio, acusando-o de só querer polícias na cidade. Mentir é feio, e todos sabemos como isto é uma calúnia.
9) Finalmente, o homem do piano usurpou uma indemnização quando saiu, vítima de perseguição política, da Casa da Música, e agora quer regressar. Quer regressar quando nem sequer possui as qualidades de "high profile" que se exigem a um director artístico.
O homem do piano, desprovido de qualquer qualidade, é um homem perigoso. E ninguém parece ter coragem para o prender.
Tudo isto - e tudo isto é triste -, ficamos nós a saber, ontem, na entrevista concedida ao Expresso pelo engenheiro Couto dos Santos. Foi o seu grito de guerra depois de um mandato de 16 meses em que se contam pelos dedos de uma mão as vezes em que o ex-presidente do Conselho de Administração abriu a boca.
O amor - sabemos todos -, faz-nos ser ridículos, faz-nos perder a razão, turva-nos o raciocínio, limita-nos a visão. E, às vezes, tudo isto é comovente. Mas outras vezes, é só mesmo isso: ridículo. Couto dos Santos perdeu uma oportunidade única para estar calado. Expôs-se ao ridículo desnecessariamente. Demonstrou não ter percebido nada do projecto que dirigiu. Podia ter saído em silêncio, com pezinhos de lã. Talvez as pessoas esquecessem - e em Portugal é tão fácil esquecer -, que substituiu o tal Serviço Educativo por uma coisa inócua chamada Direcção de Educação e Investigação, onde colocou Maria João Araújo. Talvez as pessoas nem percebessem que estava a misturar esferas que não é suposto serem misturadas. Mas Couto dos Santos preferiu ser um Romeu imberbe e imprudente. Haja alguém com coragem de, por uma vez, repor a verdade!
P.S.: Novidade que poderá ter passado despercebida numa leitura mais fugaz: A Direcção de Educação e Investigação que inicialmente se chamou Serviço Educativo, passará a chamar-se Direcção Artística e de Educação. Afinal, nem tudo na entrevista foram peanuts.

3 comentários:

  1. Mas Helena tu não eras uma admiradora das capacidades do pianista?

    Se calhar devo estar a sonhar! :)

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  2. Lê com mais atenção. Chama-se ironia. É uma figura de estilo que dá muito jeito. Ironia!

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