Paulo Cunha e Silva inaugurou ontem um novo espaço de crónica na revista do DN: "Cultura em plano inclinado". Ao seu bom modo, gastou a página inteira a escrever sobre o que a página irá ser. Já lhe conhecemos o método: no Instituto das Artes, do qual foi responsável até há pouco tempo, gastou o tempo quase todo a definir a definição da coisa. Mas o pior nem é o método - falível, como ficou provado. Pior é Paulo Cunha e Silva achar que não tem nada a ver com isso. Com as consequências do seu método. Por isso, surge a auto-proclamar-se guardião atento de todos (leia-se Ministra da Cultura e respectivo Governo que o dispensou) quantos queiram flagelar a sua ideia do que a cultura deve ser.
"A cultura, sobretudo a cultura contemporânea, é uma ecologia muito subtil que corre todos os riscos em períodos de chuvas ácidas, como aquele que atravessamos", escreveu como quem assina o seu atestado de inocência. Como quem diz: "Eu sabia para onde queria ir, mas eles, os maus, os incultos, não me deixaram ir." É o verdadeiro discurso miserabilista com o cheiro podre da resignação. Com uma agravante: é o discurso de quem, ignorando que na vida não é possível fazer tábua rasa do passado e começar do zero, anuncia um ajuste de contas público com os mentores dessa "visão pequena e paroquial" da cultura.
Na sua cabeça, Paulo Cunha e Silva estará para a Cultura como Mário Soares está para o país que o não elegeu. É um injustiçado e um incompreendido. Só a comparação - mais sugerida do que declarada -, é de um pretensiosismo inclassificável. Mário Soares, a quem o país tanto deve, nunca desistiu. Já Paulo Cunha e Silva, ao menor indício de contrariedade, ameaçava com a demissão. A vaidade impediu-o de a cumprir. Acabou, com menos nobreza, sendo demitido. Não pode é agora fazer de conta que é um iluminado e que não fez parte daqueles a quem compete concretizar "o programa".
Ora nem mais!
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