sexta-feira, agosto 19, 2011

Ivan Turguéniev: Fumo


Estava só no vagão; ninguém o incomodava. "Fumo, fumo", repetiu ele algumas vezes: e, de súbito, pareceu-lhe que tudo era fumo, tudo, a sua própria vida, a vida russa - tudo o que era dos homens, e especialmente tudo o que era russo. "Tudo fumo e vapor", pensou, "tudo parece mudar continuamente, em toda a parte novas formas, acontecimentos, mas no fundo é tudo o mesmo; tudo corre, tudo se apressa para qualquer parte - e tudo desaparece sem um rasto, nada atingindo; o vento muda - e tudo se lança na direcção oposta, e de novo começa o mesmo jogo incessante, ansioso e fútil." Lembrou-se de muita coisa que tivera lugar com clamor e comoção em frente dos seus olhos nos últimos anos... "Fumo", pensou ele, "fumo!" Lembrou-se das controvérsias acesas, das discussões, dos gritos no quarto de Gubarióv e em casa de outras pessoas, grandes e humildes, avançadas e reaccionárias, velhas e novas... "Fumo", repetiu, "fumo e vapor". 

[Clássicos Relógio D´Água: uma edição com uma quantidade de erros de ortografia absolutamente escandalosa.]

1 comentário:

  1. ...e, afinal, havia outra história por trás de tanto fumo... talvez mais central...realistas...

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