segunda-feira, agosto 15, 2011

Ernesto Sabato: O Túnel


"Em todo o caso havia apenas um túnel, obscuro e solitário, o meu, o túnel em que decorrera a minha infância, a minha juventude, toda a minha vida. E num desses pedaços transparentes do muro de pedra tinha avistado essa rapariga e tinha, ingenuamente, acreditado que vinha por outro túnel paralelo ao meu, quando na verdade pertencia ao largo mundo, ao mundo sem limites dos que vivem em túneis e talvez se tivesse aproximado, por curiosidade, de uma das minhas estranhas janelas e entrevisto o espectáculo da minha insolúvel solidão, ou a tinha intrigado a linguagem muda, a chave do meu quadro. E então, enquanto eu avançava sempre pelo mesmo corredor, ela vivia lá fora a sua vida normal, a agitada vida de pessoas que vivem de fora, essa vida curiosa e absurda em que há bailes e festas, alegria e frivolidade. E acontecia às vezes que, quando eu passava diante de uma das minhas janelas, ela me esperava muda e ansiosa (porquê esperando-me? porquê muda e ansiosa?). mas acontecia às vezes que ela não chegava a tempo ou se esquecia deste pobre ser fechado e então eu, com o rosto apertado contra o muro de vidro, via-a ao longe a sorrir e bailar despreocupadamente ou, o que era pior, absolutamente não a via e imaginava-a em lugares inacessíveis e lascivos. Sentia então que o meu destino era infinitamente mais solitário do que tinha imaginado."

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