Pretendendo revisitar a lenda e a história de Pedro e Inês, o Teatro O Bando convidou o encenador russo Anatoly Praudin e a dramaturga alemã Odette Bereska para criarem um espectáculo onde a sua visão externa, influenciada por outras tradições literárias, pudesse trazer algo de novo a uma história profundamente enraizada na cultura portuguesa. Procurando também promover o contacto com novos autores portugueses, foi pedido a Miguel Jesus que criasse um texto inédito para esta produção. Num registo dramático e realista que caminha progressivamente para o poético e para o metafórico, o texto actualiza esta temática conferindo-lhe um cariz intemporal que explora sobretudo as relações de culpa e de vingança que se estabelecem entre os vários personagens envolvidos no assassinato de Inês.
A força destruidora do amor e as interrogações que caratecrizam a peça "Pedro e Inês" são comuns a todas as dramaturgias e o mito de Inês de Castro já extravasou as fronteiras de Portugal.A afirmação é de Anatoly Praudin, director do Experimental Stage of Baltic House de São Petersburgo, na Rússia. Baseada na história de Inês de Castro e D. Pedro I, a peça tem uma forte componente física, com cenas de nus e seminus. O cenário é marcado por uma arena desmontável, que vai assumindo diversas formas e utilizações, e por uma máquina de cena cilíndrica que ocupa grande parte do palco. Questionado pela Lusa sobre a componente física da encenação da peça, Anatoly Praudin disse ter feito uma "reinvenção do mito" de Inês.
Consciente de estar a "juntar dois mundos diferentes" nesta peça baseada no texto "Inês Morre", de Miguel de Jesus, Anatoly Praudin admite que nem sempre a peça pode ser "entendida" pelo espectadores portugueses já que contém muito da sua experiência enquanto dramaturgo russo. "Estamos aqui a misturar mundos diferentes", disse, considerando que a peça tem "uma cara, linguagem e poesia próprias"."Mas a força destruidora do amor é um tema que extravasa fronteiras", frisou, acrescentando tratar-se de um tema que há 200 anos é estudado na Rússia. Apesar da história de D. Pedro e nês de Castro ser totalmente portuguesa e datar do século XIV, não é completamente desconhecida dos russos.
É que no Museu Russo, em S. Petersburgo, existe um quadro de um pintor russo famoso, Karl Brulov (1799-1852), intitulado "A Morte de Inês", que é sobre Inês de Castro, disse o encenador. A colaboração de Anatoly Praudin com O Bando é a primeira do encenador em Portugal, embora já tenha trabalhado com a companhia em produções realizadas no estrangeiro.
Encenação: Anatoly Praudin; Composição musical: Jorge Salgueiro; Cenografia: Rui Francisco; Figurinos e adereços: Clara Bento. Elenco: Sara de Castro (Teresa), Inês (Susana Blazer), Miguel Borges (Pedro), Ivo Alexandre (Pacheco), Estêvão Antunes (Coelho) e Helena Afonso (Corifeu). Datas: 4 e 5 de Março, Centro Cultural Vila Flor, Guimarães; 9 de Abril, Teatro Municipal de Bragança; 15 de abril, Teatro de Vila Real; 21 de Abril, Cine-Teatro de Estarreja; 21 de Maio, Teatro Virgínia, Torres Novas; 9, 10, 11, 12, 14 e 15 de Junho, Centro Cultural de Belém, em Lisboa; 17 e 18 de junho, n´O Bando, em Palmela.
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