quarta-feira, março 30, 2011

Eduardo, o Pritzker


Eduardo frequenta o mesmo café que nós. Com a mesma intermitência. É um café de bairro, do Ouro, o único virado ao rio. Ali pedem-se traçadinhos e francesinhas, ouve-se um boa tarde com a mesma tranquilidade de um foda-se. Cheira a fritos e a franqueza. Dias de FCP são dias de santo padroeiro, casa cheia, decibéis descontrolados, braços no ar, relato nos phones de alguém para o golo chegar cá primeiro; dias normais são dias em que ali cabe toda gente, gente como nós, do teatro, da arquitectura, da justiça, junkies de toda a espécie, famílias inteiras, gente simples, toda, de bem. Eduardo estaciona ali de vez em quando, cerveja na mesa, olhar no infinito, ou no finito do outros, observa, sorri sempre, cumprimenta sempre. Não é um de nós, é um dos nossos. 

Quando acontece aguardarmos o primeiro táxi, o primeiro instinto dele é sempre cedê-lo. Mesmo se é dele a vez. Se não aceitamos, ele sorri, cumprimenta, agradece. Em expressivo silêncio. Nem sequer lhe conhecemos a voz. E quase partilhamos o jardim. O nosso acaba onde começa o dele. E lá dentro do dele, as luzes nunca se apagam, nem à noite nem ao fim-de-semana. Há sempre gente a trabalhar. Ao Domingo, quando o calor aperta, hordas de turistas, japoneses, muitos, fila indiana à porta do atelier. Aquela caixa cinzenta, que se não vê da rua, é um santuário para quem sabe. Lá dentro, dois santos, dois prizkers, Eduardo Souto Moura e Álvaro Siza Vieira. Eduardo só é Eduardo para nós, e mesmo assim, só em pensamento.

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