Em 2007, Barack Obama ainda não tinha sido apresentado aos Estados Unidos e ao mundo como o homem que haveria de salvar-nos ou, pelo menos, restituir-nos aparentemente a esperança. Em 2007, ainda não tinha estourado a crise do subprime (ou já tinha, mas só muito lentamente começava a ser revelada) e a pirâmide de Madoff ainda não tinha sido desmantelada numa ventania que faria tremer parte do mundo. Em 2007, a União Europeia ainda não tinha equacionado desfazer-se ou, nessa improbabilidade, tramar os parentes pobres. E o Euro ainda valia mais do que o Dólar. Mas o Muro de Berlim já tinha sido derrubado há muito e, com ele, os regimes soviéticos da Europa. O Iraque já tinha sido invadido e o 11 de Setembro já nos tinha familiarizado com uma coisa chamada Al-Qaeda. Dizer Ocidente já passara a significar outra coisa. Foi nesse contexto, no contexto do que já tinha mudado, que Matthieu Baumier publicou um livro sobre a inversão da realidade - no mundo e em cada um de nós - a que agora vale a pena voltar. Sobretudo à luz dos dias que correm...
A teoria gira toda em torno do que ele diz ser a pós-democracia (numa espécie de duelo invisível, mas constante, com Raymond Aron), que ilustra em vários cenários e que, cosendo tudo, define assim: "Ela é um estado servil da sociedade, em que o imaginário permanece o da liberdade e da igualdade, mas em que uma das suas principais características é a primazia do bem particular sobre o bem comum. (...) Entrámos na era da pós-democracia sem verdadeiramente nos darmos conta, como cegos e inocentes daquilo que construímos, pretendendo hipocritamente executar o exacto oposto daquilo em que entrámos. É o tempo da guerra permanente a todas as escalas da vida e do homem. Da guerra permanente interiorizada como normalidade. (...) O pós humano pós democrático dá uma contra-civilização não civilizada. (...) Trata-se de um retrocesso e a esse recuo chamamos, sem ironia, liberdade. Eis uma liberdade que me parece ter o gosto amargo da alienação colectiva aceite."
Na impossibilidade de citar o livro inteiro, fica a ideia:
"Trocamos o prazer e o conforto a favor na nossa liberdade, o que quer dizer que em nome de uma paixão democrática radical, a paixão da igualdade, assassinamos o conceito de alicerce da própria democracia, a liberdade. (...) A democracia não vive somente das suas forças, ela vive também das suas tensões. Portanto, vive sob o jugo de um risco permanente: o de deixar de ser ela própria, antes de simplesmente deixar de ser. Estamos no exacto momento em que a democracia deixa de ser ela própria. Aí começa a servidão.
A história da democracia decidiu por nós: a democracia social, directa ou radical falhou.
Nós entrámos na noite.
E já não compreendemos este mundo. É por isso que o transformámos numa grande Imagem. É por isso que nos escondemos na Imagem que constituímos do mundo. Somos aparências escondidas no coração de uma Aparência."
"Quem prescinde da liberdade essencial para garantir uma pequena segurança temporária não merece nem a liberdade nem a segurança." (dizem que de) Benjamin Franklin
ResponderEliminar