terça-feira, novembro 20, 2007

Evening


Éramos sete pessoas à meia-noite. Uma desistiu logo no genérico. Sobraram três casais. Um, meia idade, fila da frente, cabeças encostadas em pirâmide; outro, idade mental das pipocas, escolheu sentar-se ao nosso lado quando havia pelo menos 300 lugares livres na sala; e nós: eu e um crítico. A companhia colocava-me imediatamente em clara desvantagem. Ao lado de um crítico até é possível rir sem motivo aparente, mas é estritamente proibido chorar. E eu passei três quartos da sessão a chorar. Copiosamente.

Como sempre, escapam-me as elaboradas considerações sobre interpretação, fotografia ou consistência do argumento. Não sei se "Evening" - do mesmo autor de "As Horas", o escritor norte-americano Michael Cunningham - é bom ou mau; mas sei que não consegui não deixar-me levar na torrente da memória de Ann Grant: no leito alvo da morte interpretada pela divinal Vanessa Redgrave; corpo cobiçado de Claire Danes na juventude.

Evening é uma viagem, quase de redenção, pelo que Ann desejou e não cumpriu: o reconhecimento como cantora, a relação com as duas filhas, a morte do amigo que não evitou e, claro, o amor que se quer para sempre. Mas que só é para sempre quando a imagem que dele se guarda não envelhece. E que só não envelhece se não se ficar com ele, com o amor. "O primeiro erro é como o primeiro beijo: nunca se esquece". Onde é que ela errou? Errou?

1 comentário: