A cidade esboroa-se lentamente embrulhada numa estratégia política segundo a qual não haverá cultura enquanto houver pobres. Há cada vez mais pobres e cada vez menos cultura, sobretudo cívica. O Porto é um barco fantasma à deriva, onde os cidadãos parecem não poder, ou não conseguir ambicionar a mais do que sobreviver discretamente numa espécie de corredor da morte. Condenados, mesmo que sobrevivam, a nunca ser mais do que aquilo são: jogadores num campeonato da segunda divisão, que nunca ninguém há-de lembrar-se de convidar a subir de escalão.
Entretanto, como pobres criaturas desafortunadas, alegram-se com acrobacias de aviões, com árvores de natal patrocinadas pelo Millenium BCP, com musicais importados da capital, com corridas de automóveis com transmissão em directo na Sport TV, com concertos avulso e exposições de congelador. Tudo, desde que lhes prometam recordes internacionais. E invadem as ruas, não com a naturalidade de uma cidade que fervilha o apregoado (ainda que nunca provado) espírito cosmopolita, mas como quem se socorre de pretextos para existir: seja o encerramento de uma rua ou qualquer outro fugaz evento de hora e lugar marcado. Vivem a cidade como o mundo vive a noite de passagem-de-ano: momento em que, vá lá saber-se porquê, toda a gente tem necessidade de mostrar que é imensamente feliz. Sabendo que, no dia a seguir, acordarão como na noite anterior: sem nada.
A proposta apresentada pelo governo de José Sócrates para o PIDDAC de 2008 vaticina uma redução de cerca de 20% de investimento para o Porto. Os bairros sociais, prioridade de Rui Rio, estão como sempre estiveram: mal. Ou talvez pior. Os teatros estão vazios, a cultura é a que se adquire num pacote de pipocas. O desemprego aumenta, a falta de perspectivas também. Os portuenses ganham, em média, quase menos de metade do que as pessoas que vivem em Lisboa. E quando a cidade é notícia nacional, nunca o é pelos melhores motivos. Rui Rio será mau. E a Oposição?
A Oposição, esse núcleo intermitente de vereadores socialistas que nem a vitória no processo Rivoli souberam cobrar e potenciar, aparecem agora, indignados, ferozes, a contestar o quê? O facto de Rui Rio ter oferecido um camião do lixo a Moçambique e Moçambique ter recusado. Diz o PS que é "preciso manter a dignidade da Câmara".
Quase dá vontade de votar em Rui Rio!
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