Edie Sedgwick, pobre menina rica, queria ser famosa. Andy Warhol, maníaco artista pop, concedeu-lhe 15 minutos. Um dia, todos teriam os seus, apregoava. Edie apaixonou-se inelutavelmente por ele. Andy sugou-lhe impiedosamente a alma. Viveram juntos durante um ano. Enquanto ela teve capital para esbanjar. Depois, ele trocou-a por outra. Por outra parecida com ela. Ela chorou nos braços da heroína. Sem Bob Dylan, por quem se apaixonara, mas de forma carnal. E com o sonho destruído. Suicidou-se aos 28 anos, três meses depois de ter rodado uma espécie de autobiografia da decadência: "Ciao, Manhatthan", realizado por John Palmer e David Weisman, em 1972.
Factory Girl, de George Hickenlooper (com desempenhos absolutamente notáveis de Sienna Miller e Guy Pierce), que deverá chegar a Portugal em Maio, é o impressionante retrato desses 12 meses de 1965, de devaneio semi-conjugal dentro de uma fábrica - dentro da Fábrica. E é o fim do mito Warhol - criatura oportunista, interesseira, insensível, egocêntrica, mesquinha, obstinada, ridícula, no limiar do patético. E de cuja obra, pessoalmente, nunca gostei.
Bob Dylan tentou incompreensivelmente impedir a estreia do filme, no início deste ano, nos Estados Unidos. Mas, se fosse vivo, seria seguramente Andy Warhol a mover uma providência cautelar. Depois de espiar o seu laboratório, como quem inspecciona o seu interior decrépito, é impossível continuar a considerá-lo. Um artista não despreza a sua musa. Não a assassina.
Sem ele, talvez ela, rapidamente reconhecida como rainha do cinema underground, nunca tivesse cumprido o desejo de ser famosa. Foi protagonista de “Poor Little Rich Girl”, “Kitchen”, "Vynil" e “Beauty No. 2” e recrutada para inúmeros editoriais de moda. E talvez até tenha sido feliz. Na vertigem das festas e da transgressão. Pela primeira vez, graças à sua irreverência, a alta sociedade descia à rua, expunha-se, frequentava a Factory.
Mas sem ela, teria Warhol conseguido sobreviver à falência?
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