Percorro as ruas escuras no encalço de uma coisa chamada "Dos Naciones". Tenho a estranha impressão de ser a única criatura de pele deslavada e cabelo descolorado que circula por estes lados. Avanço. "Só paga o que beber. A comida é oferta". Há sopa de marisco intensa servida em chávenas de chá e coisas esquisitas e picantes de que não sei o nome. Uma irresistível juke box obriga os homens a fazer fila para escolher músicas românticas para damas de mini-saia e perna bojuda. Nessa altura, ainda não tinha percebido que a casa possui um segundo andar. Os "Tigres do Norte", inúmeras vezes grafitados nos muros da rua, estão ali, em todo o seu esplendor, a conquistar as mulheres. Elas, de perna cruzada ao balcão, encurtando-lhes a roupa de pouco pano; eles, hirtos, com a mão generosa a afagar-lhes as carnes. Cada escolha custa cinco pesos. Sai Elvis Presley, só para contrariar. A prata da casa não aprecia o gesto e investe moedas seguidas.
Arrisco o andar de cima. Outra juke box, mas digital. Uma plateia inteira de homens. Em cada mesa, uma mulher. As regras são simples quando a música sai da caixa para a pista: elas podem provocar, abanar a anca e o resto; eles aceitam ser conduzidos, mas não podem tocar-lhes. Tocar-lhes como desejariam, pelo menos. Parecem felizes ainda assim. Elas, nem por isso.
Não levanto o pé do chão. "Como se diz propina no teu país?", pergunta o rapaz de patilhas afiadas e cabelo minuciosamente desenhado com gel, como o de todos os rapazes. "Gorjeta". Ele pisca o olho. Eu abro uma excepção.
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