De vez em quando fazem-se intervalos da vida. Às vezes, só com aquela esperança, vagamente idiota, porque raras vezes verificada, de colocar a cabeça no lugar. Às vezes, só por causa das férias. Neste intervalo de três semanas, perdi a oportunidade de lamentar a derrota de Portugal contra a Alemanha e de dizer como isso me deixou triste, sobretudo por saber que ainda não é desta vez que o país vai parar de andar com o Eusébio atrelado. Perdi a oportunidade de partilhar a minha vontade de pontapear o fulano que, ao meu lado, não parava de clamar pelo Nuno Gomes e de como esse discurso, repetido insitentemente ao longo de quase 90 minutos, me impediu de ficar feliz com o cruzamento do Figo. Perdi ainda a oportunidade de elogiar o António Macedo que, noite após noite, fez um trabalho notável na Antena 1. De me redimir parcialmente em relação a Scolari. De me despedir do Figo e de me solidarizar com Zidane. Sempre achei, e continuo a achar, que há momentos em que a violência verbal é bem pior do que a física.
Pior, eu, católica praticante, com um passado de catequista e todas as comunhões e retiros espirituais cumpridos, perdi a oportunidade de ficar envergonhada por todos os imensos hipócritas que criticaram Zapatero por não ter assistido à missa do pápa, que parece ter encontrado na homossexualidade o bode expiatório para a crise das famílias. Perdi ainda a boleia para a piada desse jornalismo que, da entrevista de José Sócrates a Maria João Avillez, na Sic, só conseguiu reter que o primeiro-ministro afirmou aprender coisas com Cavaco Silva.
E perdi - é talvez o que mais me custa -, a oportunidade de destilar o inevitável veneno sobre a crónica que Rui Rio escreveu um destes dias no Diário de Notícias sobre como viver no planeta autista.
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