domingo, janeiro 29, 2006

Quando tive consciência da consciência que tinha de ti, tu já tinhas mais cabelos brancos do que de outra cor qualquer. Por isso, cresci com o medo epidérmico de te perder. Mas tu nunca nos tinhas dito que envelheceste com medo de não nos veres crescer. A tua meta, confessaste hoje, era chegares aos nossos 18 anos. Já passaram quase 30. E tu nem sequer envelheceste.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

País virado do avesso

Corre o ano de 2003. Fátima Felgueiras, presidente da autarquia homónima, foge para o Brasil, sob o cutelo da prisão preventiva, na sequência do caso Saco Azul, acusada de vários crimes. Francisco Assis, líder distrital do PS-Porto, critica ferozmente a autarca pela fuga à justiça e desloca-se a Felgueiras para fazer o ponto da situação. O povo, irado, sai então à rua. Irado com a senhora Fátima? Não! Com Assis. Oferece-lhe porrada, cerca-o e chama-lhe "gatuno".
Estranha ironia de um país virado do avesso. Fátima Felgueiras, curiosamente reeleita em Outubro de 2005, é acusada de roubar. E Francisco Assis é que é alvo dos insultos! Alguém duvida que os ilustres quatro (quatro... quem diria...) senhores acusados da agressão irão sair impunes?

Motivos para votar em Cavaco II

As dúvidas avolumam-se: porque raio votam os portugueses em quem votam? No noticiário da Sic, às 20 horas, vejo uma reportagem sobre um sítio qualquer chamado Casas Novas, onde Cavaco Silva ganhou com 100%. O jornalista entrevista as pessoas do referido local. E as declarações de uma filha da terra não poderiam ser mais esquizofrénicas. "Isto aqui é só pedra e teias de aranha. O senhor professor já lá esteve uma vez e não fez nada de mal. Por isso, votamos nele para ver se nos tira deste atraso."
Dúvida n. 1: Onde é que o professor já esteve? Em Belém?!
Dúvida n. 2: Qual foi o contributo do professor: as pedras ou as teias de aranha?
Dúvida n. 3: Se o professor "já lá esteve" e "não fez nada de mal" porque é que não tirou Casas Novas desse atraso?

Motivos para votar em Cavaco I

A razão que leva as pessoas a votar no candidato A ou B nas eleições X ou Y sempre foi, para mim, um mistério. Um mistério que se adensou ainda mais nas recentes presidenciais. Ontem perguntei a uma esteticista - um senhora bondosa, na casa dos 50, que veio de Angola aos 33 anos depois de ter ficado viúva -, se havia cumprido o seu dever cívico. Respondeu-me que sim, devido "à insitência da mãe". Não precisei perguntar-lhe em quem. Ela disse-mo voluntariamente: "Cavaco Silva. E a menina?". A menina não votou Cavaco Silva, mas perguntou-lhe porque é que ela o fizera. "Porque o professor é um homem bonito e cheio de charme. Vai saber-me bem acordar durante cinco anos a saber que o nosso presidente é um homem tão elegante." Fiquei em silêncio alguns instantes à espera do resto da justificação. Como ela não avançava, arrisquei: "Só por isso?" Resposta: "Sim, não tenho outro motivo. De todos, ele é o homem mais bonito", sublinhou, claramente satisfeita.
A justificação aterrorizou-me. Essa ideia de a beleza começar a ser perigosamente cotada em política é absolutamente diabólica. Nas últimas legislativas falou-se até à exaustão do perfil atlético de José Sócrates, que viria a tornar-se Primeiro-Ministro. E nas últimas autárquicas, no Porto, a alegada fotogenia de Rui Rio foi múltiplas vezes referida como uma vantagem sobre Francisco Assis, que viria perder. Juro que não entendo as vantagens dos líderes sex-symbol, mas se for esse o critério, podemos ao menos elevar a fasquia?

terça-feira, janeiro 24, 2006

Foi uma estupidez

Marta, uma apoiante de Soares, em declarações ao jornal Público, depois de saber da vitória de Cavaco Silva. Numa frase diz tudo:
"Mário Soares é o último grande estadista europeu vivo e em excelentes condições físicas e intelectuais. Era uma estupidez não aproveitar esta oportunidade para o ter como presidente."
Foi uma estupidez!

segunda-feira, janeiro 23, 2006

O primeiro dia dos próximos cinco (dez?) anos

Cavaco Silva - 50,59%

Manuel Alegre - 20,72%

Mário Soares - 14,34%

Jerónimo de Sousa - 8,59%

Francisco Louçã - 5,31%

Garcia Pereira - 0,44%

sábado, janeiro 21, 2006

Aldina Duarte

Estive com Aldina Duarte há mais de um ano, numa tarde solarenga de Setembro, no Jardim da Estrela, em Lisboa. A fadista estreara-se há pouco tempo com um álbum de fado tradicional intitulado - e não por acaso -, "Apenas o amor".
A crítica, unânime, já a tinha abençoado. Ela sabia, mas não sabia ainda lidar com isso. As mãos sobravam-lhe, inquietas, em cima da mesa. A boca, com o coração inteiro à beira, deixava constantemente escorregar gargalhadas nervosas. Sendo grande, na voz e no resto, parecia uma menina pequenina vinda de outro planeta, deslumbrada com este que acabara de se deslumbrar com ela.
Uma entrevista, quando é publicada, por muito boa vontade que haja por parte de quem a fez, dificilmente basta para mostrar o essencial do entrevistado. De Aldina faltou-me publicar o silêncio e o brilho do olhar. Faltou-me publicar as vezes que engoliu em seco e as vezes em que se perdeu a divagar sobre a constituição das nuvens ou sobre as vacas que, aos 20 anos, percebeu que nunca vira ao vivo. E faltou-me publicar a imensa generosidade com que me recebeu, à noite, no Sr. Vinho, onde, inevitavelmente rendida, a fui ver e ouvir cantar, embrulhada num xaile preto. O mesmo que usava sempre.
Aldina Duarte comove-me desde que, pela primeira vez, a ouvi. Depois de amanhã, a fadista lança o seu segundo álbum. Chama-se "Crua".

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Candidatos num minuto

Miguel, outro amigo prezado, envia-me o seu grito de protesto sob a forma de perfil dos candidatos às presidenciais para justificar o seu voto nulo. Democrática como sou, partilho aqui no blog - obviamente não comungando -, a posição dele.
Cavaco Silva
Traz a Opus-dei às costas, conservador e economista. É um capitalista com as costas quentes e os bolsos cheios... trás os valores da igreja e os bancos ao lado... pessoalmente, mais uma reforma e um brilho no currículo... Vai criar controvérsia com o Governo para os próximos três ou quatro anos passarem num instante sem ninguém notar, entretido com todos esses 'problemas'.

Mário Soares
Traz a maçonaria às costas, alguma glória mediática e muitas mentiras pelo meio... é um pobre velho, manobrado pelo aparelho para contrapor Cavaco (Sócrates e o PS pretendem, obviamente, a vitória de Cavaco)... Se ganhasse, a Ota seria bem mais fácil... pessoalmente? Mais uma reforma (fica com uma mao cheia delas!), um brilho no CV e mais nada que, sinceramente, lhe faça falta.

Jerónimo de Sousa
Nem vale a pena falarmos do divertido jogo de oposição esquerda-direita que cria, nem vale a pena falarmos do comunismo...

Francisco Louçã
É o cabeça de uma alternativa ao comunismo para quem está farto deste. Ou então é menos palas um bocadinho...
Manuel Alegre
Pateta Alegre

O poder das rosas

Acabo de receber a seguinte mensagem no telemóvel: "Vi a peça da Sic e decidi em quem vou votar: Alegre. Pela esquerda renovadora, progressista e cultural. Com Alegre a presidente, Portugal será grande para sempre." Vindo de quem veio, um amigo estimável, suponho ser uma mensagem irónica. Mas o conteúdo não deixa de me fazer temer que possa ser isto que, mais coisa menos coisa, pensam os cerca de 16% que tencionam votar no poeta. (Já agora, a peça da Sic mostrava o senhor a distribuir rosas. E alguém do seu staff disponibilizou-se a legendar o momento: "Por Portugal, o poder das rosas". Depois do poder da poesia... era só mesmo o que faltava!)
De qualquer forma, Manuel Alegre ganhará sempre, quer fique em segundo lugar e passe à segunda volta (estranha bizarria de um país que, provavelmente, nunca leu o poeta e, seguramente, não reteve dele, porque não existiu, qualquer ideia) ou em quinto. Ganhará porque teve um protagonismo que, mesmo sendo vaidoso, nunca no seu maior devaneio lírico imaginou ter. Ganhará porque, patético, imaginará que vale mais do que Soares. E essa convicção será suficiente para lhe alimentar o ego nos próximos anos. E para que se veja a ele próprio como uma criatura digna de figurar na História. Ganhará ainda porque, ingénuo, não pecebe que o povo votará nele como quem vota no coitadinho da esquina, desgraçadamente traído pelo amigo. Os portugueses adoram um dramazinho, adoram ceder o ombro amigo aos indefesos. Irão votar nele sem saber porquê, só porque sim. Mas ele sairá inflamado, com a alma insuflada depois do seu périplo pelo país.

Cavaco II

Outra vez Vasco Pulido Valente. Outra vez uma crónica que podia ter sido escrita hoje. Mas é de 1991.
"Os inimigos do dr. Cavaco nunca perceberam que a obstinação dele o punha firmemente no centro das coisas e os podia coagir, como coagiu, a tomá-lo como único ponto de referência. Cavaco sabia o que queria; os inimigos de Cavaco limitavam-se a saber que não queriam Cavaco. Pouco a pouco, subordinaram-se a ele e ele ficou livre.
(...)
Os portugueses não mudaram e, precisamente porque não mudaram, vão votar nele.

Cavaco Silva numa sociedade mendiga e atrasada

Foi há 16 anos. Podia ter sido hoje. Escreveu Vasco Pulido Valente em Julho de 1989, no Independente:
"Não se pode compreender Cavaco sem compreender essa aberração, essa autêntica originalidade portuguesa que se chama PPD/PSD. Inscrito no grupo liberal do Parlamento Europeu e tendo relações orgânicas e financeiras com os partidos liberais da Europa, o PPD/PSD não é, nem por aproximação, um partido liberal. Não é também, apesar do segundo nome que tardiamente lhe deram e do que desde o princípio proclamaram os seus dirigentes, um partido social-democrata. Há mesmo legítimas dúvidas de que seja democrático. Mas não há dúvida alguma de que é popular.
(...)

Quanto à célebre governação do dr. Cavaco resume-se a usar com algum proveito o pouco dinheiro que existe e ir distribuindo o mal pelas aldeias. E que mais seria de esperar numa sociedade mendiga e atrasada?
A primeira condição do exercício consiste naturalmente no poder absoluto, que o dr. Cavaco com toda a razão exige. Sem um poder absoluto, não conseguiria conter e disciplinar o vasto número de indivíduos, de instituições e de grupos de pressão, cuja vida ou simples sobrevivência dependem do Estado. Os pobres nunca estão satisfeitos e os portugueses são todos pobres. Os nossos pobres são pobríssimos e os nossos ricos uns pobres ricos.
A maioria garante a essência do dr. Cavaco. Com a existência o problema complica-se. Daí que o dr. Cavaco reeitere obsessivamente que não governa para ninguém em particular, porque a sua paternal justiça não pode ser impugnada. Daí que afirme absessivamente a sua impermeabilidade às pressões e veja uma conspiração de «interesses» dúbios por detrás das mais ténues críticas que lhe dirigem. Essa paranóia é pura política. Ele sente-se como o proverbial menino holandês com o dedo no dique. Se alguém o mover um só milímetro, segue-se o desastre. Ceder uma vez significa animar as fúrias dormentes da frustração portuguesa. Ele não cede. Dá audiência real à oposição e chama à conversa «diálogo». Não se corrige, mesmo quando erra, e, quando por acaso se corrige, nega que se corrigiu.
Cavaco supõe que a sua impassividade inspira confiança. Inspira, pelo menos, uma certa apatia e tende a desencorajar as partes queixosas, que se cansam de bater com a cabeça no muro. Ele acha isso óptimo, sem perceber o que perde no processo. O princípio fundamental do cavaquismo não lhe permite perceber. Ele imagina que é Primeiro-Ministro por causa da sua capacidade técnica como gestor da economia. Dispensa ou subtrai dinheiros daqui e dali, destes ou daqueles bolsos, em nome da ciência.
O «grande desígnio» de Cavaco foi destroçado em dois anos; e falta-nos ainda assistir às suas piores consequências. Foi destroçado e não apenas, como ele pretende, por causa das dificuldades internacionais. Mas por ele próprio.
(...)
Muitas vezes, durante a irresponsável campanha de 1987, pensei se o homem perceberia o que estava a fazer. Percebesse ou não, proclamar aos míseros portugueses que não tornariam a «apertar o cinto» e que ele tiraria Portugal «da cauda da Europa» era o mesmo que lhes anunciar a morte de um tio rico no Brasil. As «expectativas» que isto criou liquidaram imediatamente toda a possibilidade de comedimento ou de «concertação». As pessoas ficaram à espera dos serviços sociais dos suecos, dos salários dos alemães e dos impostos dos turcos; e entretanto foram às compras.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

"O tempo de Mário Soares"

Dizem-me que só os posts dietéticos conseguem ter leitura. Mas é impossível emagrecer o número de citações da obrigatória e lúcida crónica que Eduardo Lourenço publica, hoje, no Público. Sobre o tempo de Mário Soares.

A propósito de lucidez, o ensaísta tem 83 anos; o político tem 81. Num país em que qualquer gato pingado, a partir dos 50 anos, já dá três tostões a quem lhe garantir uma reformita antecipada, isto dá que pensar. Sobretudo quando são esses pré-reformados que recusam votar em Soares por causa da sua idade. Quem não gosta de trabalhar, tem aversão a quem trabalha. E a quem luta. Até ao fim. É triste, mas é verdade. É o sinal de um país que recusa ter memória.
Escreve Eduardo Lourenço:
"Trazer para esta sociedade, mais do que nunca sociedade de espectáculo, o eco da antiga paixão portuguesa, quer a recalcada do antigo regime, quer a exaltada e exaltante das duas décadas após Abril, era uma aposta arriscada, para muitos perdida e, em todo o caso, objectivamente quixotesca. Filho desses dois tempos, de que foi actor político precoce e, depois, personagem histórico, Mário Soares ousou trazer de novo para uma arena pública, já longe desses tempos turbulentos, essa antiga paixão política, sem querer saber se estaria ou não fora de estação. Passada a surpresa, esta audácia quase juvenil do antigo Presidente da República foi recebida com cepticismo por muitos, com sarcasmo por outros e, sobretudo, como uma ocasião inesperada para ajustar contas antigas e menos antigas com o homem que, melhor do que ninguém, de entre os activos, se identificou e é identificado com a Revolução de Abril e, em particular, com o tipo de democracia que ela instaurou em Portugal."
(...) "o antigo mundo que foi, durante décadas, o do horizonte da luta política de Mário Soares, funciona em termos de repoussoir - e Mário Soares, mais fiel aos seus ideais de sempre do que se diz, aparece, em fim de percurso, mais à "esquerda" do que nunca o foi. Não alinhou na cruzada da família Bush contra o Iraque, não morre de amores pela nova ordem hiper-liberal americana e comparece nos "fóruns" onde essa nova ordem imperial e imperialista é contestada. É mais do que basta para o incluir, desta vez sem reticências, na esquerda que, desde jovem, foi o seu lugar matricial e que, agora, no tarde da sua vida, lhe serve ainda de escudo."
"É uma bela aposta a de Mário Soares, perdida ou ganha. Com a sua carga romanesca e a sua trama paradoxal. Mário Soares não é - nem a título histórico, nem ideológico - toda a esquerda portuguesa, mas nunca foi mais representativo dela, da sua utopia e das suas inevitáveis miragens, do que hoje, quando, aos oitenta anos, se apresenta como alguém, dentro dessa escolha, susceptível de incarnar ainda, melhor do que ninguém, essa velha aposta que entre nós nasceu com Antero e teve em António Sérgio, entre outros, as suas referências culturais, infelizmente mais vividas com sugestões poéticas do que propriamente políticas."
"Pela força das coisas, ou a mudança de tempos, é de temer que Mário Soares se tenha enganado de moinho. Os seus adversários neste combate inglório e soberbo foram sempre outros. Não só os que se lembram do seu militantismo juvenil, como os que não esquecem a sua conversão definitiva ao socialismo democrático, mas, sobretudo, os que nunca lhe perdoaram o ter lutado pela democracia em Portugal, antes e depois de Abril. É isso que a verdadeira direita não esquece. É muito mais gente do que se supõe. É a mesma que põe na sua conta, como uma mancha indelével, a absurda culpa de ter "perdido" uma África que ninguém "perdeu" senão ela."
"Mário Soares - querendo-o ou não - está no centro desse drama. Com coragem e quase provocação, revestiu-se, pelo seu passado e pelo seu carácter, do manto real da esquerda, pensando incarná-la como ninguém. A esquerda não o traiu, nem ele se traiu nela. O drama é que essa esquerda de que pela última vez se faz paladino é, ao mesmo tempo, uma realidade - embora ideologicamente recente - e uma quimera. "

terça-feira, janeiro 17, 2006

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Descubra as diferenças

Na recta final do ano passado, o site oficial da Câmara Municipal do Porto fez saber que tencionava transformar-se num "objecto de campanha de divulgação pública na cidade". Os mais inocentes, como eu, pensaram que iriam dispôr de um local onde, concentrada, estaria toda a informação sobre os acontecimentos da cidade e, principalmente, informação sobre o que o actual Executivo tem intenção de fazer pela cidade. Erro crasso. O site oficial da Câmara Municipal do Porto - escrito sob anonimato -, afinal, só queria destilar veneno sobre os meios de comunicação que não sustentam as suas políticas. Para esta temporada, o alvo eleito foi o Jornal de Notícias.
13 de Janeiro 2005: "O JN faz hoje uma clássica peça de alfaiate, seleccionada e cortada à medida, para encaixar no modelo que o jornal tem vindo a seguir de ataque à Câmara do Porto..."
2 de Janeiro 2005: "O Jornal de Notícias voltou a atacar na edição de Domingo a Câmara do Porto, desta vez através do Vereador do Urbanismo, Lino Ferreira..."
26 Dezembro 2004: "Na sua edição de 26 de Dezembro, o Jornal de Notícias tenta criar uma intrigalhada política entre o Presidente, Rui Rio, e o seu Vice, Álvaro Castello-Branco..."
20 Dezembro 2004: "O Jornal de Notícias volta hoje a colocar como prioridade o ataque à Câmara do Porto..."
14 Dezembro 2004: "O JN reforça, hoje, de forma clara, a sua hostilidade contra a Câmara do Porto..."
13 Dezembro 2004: "O JN retomou esta terça-feira a lógica de ataque cerrado à Câmara Municipal do Porto..."
11 Novembro 2004: "O Director do Jornal de Notícias critica hoje violentamente o site oficial da Câmara do Porto..."
9 Novembro 2004: "Na sua edição do dia 9 de Novembro, o JN dispara em todas as direcções contra Executivo da CMP e o seu Presidente reeleito..."
7 Novembro 2004: "Na sua edição de domingo o JN volta a atacar violentamente o Presidente da Câmara..."

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Novo DN

Numa altura em que todos os jornais parecem obcecados em tranformar-se numa espécie de dieta para o cérebro, como se as notícias sérias fossem o bónus e não o prato principal, assistir ao resultado do peeling feito ao Diário de Notícias, é uma lufada de ar fresco. Enfim, alguém a apostar em voltar ao jornalismo sério.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

A vingança

E eis que Pedro Santana Lopes surge da névoa e da bruma para vingar-se de todas as maldades (e quem diz maldade, diz desprezo, falta de respeito intelectual, etc) de que foi vítima nas mãos de Cavaco Silva. O ex-primeiro-ministro (ainda hoje custa a acreditar na designação) afirmou, ontem, na Sic Notícias, que se Cavaco ganhar as presidenciais, ficaremos sem saber quem manda no país: se o presidente, se José Sócrates. O que é mais sinistro (para além da Sic ter decidido entrevistá-lo) é o efeito oposto que as suas declarações podem surtir no povo, que ficou de tal forma traumatizado com os seus nove meses de governação que, às tantas, terá tendência para fazer exactamente o contrário do que ele defende. Por aqui, sem o desejar, acabou de dar mais uma mãozinha ao inimigo.

terça-feira, janeiro 10, 2006

Helena Sá e Costa 1913-2006

Helena Sá e Costa não é (ou era) só uma das mais conceituadas pianistas do Porto ou do país. É (ou era) das mais reconhecidas no mundo todo. Pela perfeição, pela sensibilidade, pela inteligência. Cada um, de acordo com a sua experiência, saberá dizer o que nela a tornava tão distinta. Tendo cumprido hoje a derradeira marcha no universo dos vivos, não teve, no seu funeral, um único elemento da Câmara Municipal da cidade onde sempre viveu, a prestar-lhe homenagem. É mau. Mas, pelo menos, não é hipócrita. Pior foi aquele séquito ridículo no enterro de Eugénio de Andrade. Quem não estima a cultura, e logo, as figuras que a protagonizam, não deve ter direito a estar presente em cerimónias semelhantes.

Maria Filomena Mónica

Assim, de repente, a quem poderia interessar o Bilhete de Identidade dissecado de Maria Filomena Mónica? Mais depressa interessaria a biografia de Isabel Figueira, sobretudo se fosse ilustrada. Aparentemente, entre a vida de uma socióloga e a vida de uma manequim venha o diabo e escolha. Mas desde que o casamento desta última fez manchete num jornal diário, tudo é possível! Adiante.

Maria Filomena Mónica descreveu a história da sua vida (e, de certa forma, da vida dos outros) entre 1943 e 1976. E acompanhou-a da história de Portugal no mesmo período. Não gostando particularmente dela, não consigo ser clara em relação ao motor que me fez adquirir o livro. Talvez uma crónica de Francisco José Viegas no JN, talvez a desmultiplicação da senhora em entrevistas por todos os lados, talvez as críticas tão contraditórias. Não sei. O facto é que o comprei. Facto maior é que ao fim de três dias o havia já acabado de ler. E não devo ser a única. "Bilhete de Identidade. Memórias 1943-1976", editado pela Aletheia, em Outubro do ano passado, figura em todos os tops de venda das livrarias nacionais.

Maria Filomena Mónica é loura, é bela, é sensual. Mesmo agora, com mais de cinquenta anos. E sabe-o desde quase sempre. Por isso, o seu auto-retrato é presunçoso, egocêntrico, ufano. Isso significa que o livro é mau? Não. É, isso sim, um livro fácil de atacar. Porque é descarado num país em que o pó da alma, e do resto, se esconde sempre por baixo dos panos. Porque é sincero, mesmo quando as passagens de diários escritos na adolescência poderiam fazer corar de vergonha a própria autora. Porque é despudorado - tão despudorado quanto é possível ser o relato de qualquer experiência sexual. Quanto mais de várias. É ainda mais fácil de atacar porque a liberdade a que todos se permitem nos sinais exteriores de vanguarda (geralmente circunscritos à casa, ao carro, à roupa e, vá, com alguma sorte, a duas ou três teorias intelectuais decoradas para verter na mesa de café) não é extensível à abertura com que digerem termos como menstruação, traição, fracasso, dívidas, família, ambição. O facto de não ser comum admitir-se qualquer um destes itens, não quer dizer que eles não proliferem em cada um dos nossos lares.

As memórias de Filomena Mónica poderiam ser só, portanto, a história de uma menina loura que não queria ser reconhecida pelas suas qualidades estéticas (embora lhe desse prazer usufruir delas) mas pelas suas capacidades intelectuais, tarefa tanto mais difícil quanto o facto de os seus parceiros terem sido proeminentes figuras como Vasco Pulido Valente. Mas as suas memórias são mais do que isso. Não são apenas factuais, como é óbvio. Não se espera isenção de ninguém no relato da sua própria existência.

São o retrato do suposto creme de la creme da Lisboa daquela altura. Estão lá os Sampaio, os Vaz Pinto, os Vasconcelos e muitos outros, hoje reconhecidos por todos. O retrato de um nicho para quem o status social determinava as regras e os direitos. E quase tudo. Insegura em relação à sua própria condição social - Adquirida ou herdada? Seria ela uma menina 'bem' como as suas amigas ou 'bem' mas não tanto como elas? -, e desconfiada, tantas vezes, da bagagem que temia não ter, Filomena Mónica partilha a escalada de uma montanha, nem sempre fácil. E partilha também as oscilações políticas, dela e do país. Partilha ainda a futilidade a que estavam votadas as mulheres de então, para quem ingressar no ensino superior (as que podiam) era visto como um capricho, e desmistifica o meio académico, ao qual, apesar de tudo, continua a pertencer.

No fim, fica um travo estranho a atestado de inocência. Como se tentasse provar (aos outros ou a ela?) que tudo o que fez, fez por uma causa maior. Por um lado, seria a confessada necessidade de saber; por outro, a necessidade de um cobertor humano quentinho a atenuar-lhe as quedas. Será assim tão diferente dos outros? Também não. A única diferença é que, por mais umbiguista que seja, admitiu-o. Perante o país que a quiser ler.

domingo, janeiro 08, 2006

Pessoas insubstituíveis

A propósito do periclitante estado de saúde de Ariel Sharon e da sua recente reconversão a 'homem de paz', Marcelo Rebelo de Sousa desfez, hoje, no seu habitual monólogo com a figurante Ana Sousa Dias, na RTP, um mito que há muito desejava ver triturado. Poucos clichés me deixam mais irritada do que essa ideia de que ninguém é insubstituível. Sempre achei que, para o bem e para o mal, todos, na nossa imensa insignificância, somos insubstituíveis. O professor, ao que parece, também acha. "Há pessoas insubstituíveis", disse. "O cemitério está cheio de pessoas insubstituíveis", insistiu. E só quem por desgraça exterior à vontade própria perdeu alguém no trilho que sabe finito, pode atestar como isto é verdade. E garantir que a vida continua, mas nunca mais da mesma forma. Será porventura o que irá acontecer em Israel. Com Olmert ou com outro qualquer.

sábado, janeiro 07, 2006

Soares a salvo

Vasco Pulido Valente parece ser, quase sempre, mais pródigo em farpas do que em afectos. Mas hoje, no Público, numa crónica intitulada "Um equívoco", demonstrou ter, também, coração. Na mais lúcida das crónicas que vi alguém escrever sobre os candidatos às eleições presidenciais, VPV salva Mário Soares da mais do que provável humilhação de dia 22. E fá-lo com uma convicção que subscrevo inteiramente. Soares, diz, "não podia ter a mais remota empatia pelo 'novo homem', reduzido a uma educação técnica, com ideias sumárias sobre a sociedade e a vida, imitativo, grosseiro e dedicado a uma ambição pessoal e primária". É aqui que reside o equívoco. Soares é maior do que o aparentemente reiventado Cavaco; infinitamente maior do que o triste Alegre. Maior que o bondoso Jerónimo e que o revolucionário Louçã. Infelizmente para todos, o país não tem emenda. Mário Soares irá - a ser verdade que as sondagens, desta vez, acertam -, perder o seu último combate político, apenas, porque não percebeu que este não é o seu campeonato. E não o é, não porque seja demasiado velho ou incapaz, mas porque o Portugal dos pequeninos que ajudou a libertar das amarras da ditadura, porque o Portugal que, graças a ele, continuará, até 2013, a receber milhões de contos por dia para estourar sabe Deus em quê, continua a não ver para além do óbvio. Tal como VPV, também espero que, no fim, Soares possa sentir-se aliviado.

domingo, janeiro 01, 2006

Ljubljana - Eslovénia

Gargalhadas infinitas, em catadupa, a escorregar na neve tenra que se acumula em cada pedaço dos sítios onde nos perdemos. Dois graus negativos de calor interior. Milhares de luzinhas azuis a emoldurar os pinheiros das ruas estreitas e das montanhas inatingíveis. E do Castelo. Os corações, de mãos dadas, ao primeiro sopro da noite, a aquecerem-se com vinho morno e 'medica'. Uma cadeia freak de presos políticos transformada em inapagável residencial de arquitectura de vanguarda. As três pontes a albergarem o fumo branco dos segredos que se dizem sem dizer. Estrelas cadentes que nunca se apagam penduradas na Igreja da Anunciação. E um fogo de artifício que era pobre, mas pareceu o mais prodigioso da arte da pirotecnia. Ljubljana é, definitivamente, a cidade do amor.