sábado, janeiro 07, 2006

Soares a salvo

Vasco Pulido Valente parece ser, quase sempre, mais pródigo em farpas do que em afectos. Mas hoje, no Público, numa crónica intitulada "Um equívoco", demonstrou ter, também, coração. Na mais lúcida das crónicas que vi alguém escrever sobre os candidatos às eleições presidenciais, VPV salva Mário Soares da mais do que provável humilhação de dia 22. E fá-lo com uma convicção que subscrevo inteiramente. Soares, diz, "não podia ter a mais remota empatia pelo 'novo homem', reduzido a uma educação técnica, com ideias sumárias sobre a sociedade e a vida, imitativo, grosseiro e dedicado a uma ambição pessoal e primária". É aqui que reside o equívoco. Soares é maior do que o aparentemente reiventado Cavaco; infinitamente maior do que o triste Alegre. Maior que o bondoso Jerónimo e que o revolucionário Louçã. Infelizmente para todos, o país não tem emenda. Mário Soares irá - a ser verdade que as sondagens, desta vez, acertam -, perder o seu último combate político, apenas, porque não percebeu que este não é o seu campeonato. E não o é, não porque seja demasiado velho ou incapaz, mas porque o Portugal dos pequeninos que ajudou a libertar das amarras da ditadura, porque o Portugal que, graças a ele, continuará, até 2013, a receber milhões de contos por dia para estourar sabe Deus em quê, continua a não ver para além do óbvio. Tal como VPV, também espero que, no fim, Soares possa sentir-se aliviado.

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