A razão que leva as pessoas a votar no candidato A ou B nas eleições X ou Y sempre foi, para mim, um mistério. Um mistério que se adensou ainda mais nas recentes presidenciais. Ontem perguntei a uma esteticista - um senhora bondosa, na casa dos 50, que veio de Angola aos 33 anos depois de ter ficado viúva -, se havia cumprido o seu dever cívico. Respondeu-me que sim, devido "à insitência da mãe". Não precisei perguntar-lhe em quem. Ela disse-mo voluntariamente: "Cavaco Silva. E a menina?". A menina não votou Cavaco Silva, mas perguntou-lhe porque é que ela o fizera. "Porque o professor é um homem bonito e cheio de charme. Vai saber-me bem acordar durante cinco anos a saber que o nosso presidente é um homem tão elegante." Fiquei em silêncio alguns instantes à espera do resto da justificação. Como ela não avançava, arrisquei: "Só por isso?" Resposta: "Sim, não tenho outro motivo. De todos, ele é o homem mais bonito", sublinhou, claramente satisfeita.
A justificação aterrorizou-me. Essa ideia de a beleza começar a ser perigosamente cotada em política é absolutamente diabólica. Nas últimas legislativas falou-se até à exaustão do perfil atlético de José Sócrates, que viria a tornar-se Primeiro-Ministro. E nas últimas autárquicas, no Porto, a alegada fotogenia de Rui Rio foi múltiplas vezes referida como uma vantagem sobre Francisco Assis, que viria perder. Juro que não entendo as vantagens dos líderes sex-symbol, mas se for esse o critério, podemos ao menos elevar a fasquia?
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