[Texto para emoldurar]
"Hoje, a democracia está por conta de carrascos, que nos criaram o mau costume de os tolerarmos. Os cidadãos já não tinham grande futuro, o lugar deles sempre fora o das galerias – deveriam estar presentes, sentados, a aclamar os carrascos. Mas uma vez de pé, a vociferar a sua ira, o seu lugar é o da rua, despejados como cães.
Há anos que os carrascos nos falam na reforma do Estado. E é disso que nos vão falar sempre, com uma obsessão cada vez maior. Porque é preciso que os carrascos, que infestam as instituições do Estado, central e local, como produtos tóxicos, continuem a levar sua vida.
Esta gente enfiou-nos alegremente num buraco. Em vez de se cobrir de burel e cinza, culpou o povo de viver acima das suas posses. Mas o que é que poderíamos esperar de produtos tóxicos senão o envenenamento cívico?
Todos os dias, esta praga animalesca, que floresceu com a democracia, cava o buraco da nossa sepultura, com a dívida pública a ascender a 130% do PIB e o desemprego a subir para mais de 18%.
Claro que têm que reformar o Estado. Têm que poder largar borda fora os seus servidores. Têm que poder mandar para fora das galerias o ensino e a saúde. Sem qualquer sobressalto legal, que outro sobressalto nunca tiveram, têm que poder deitar mão ao alheio, como se coisa sua fosse. Enfim, têm que poder encher o buraco que não param de cavar, com os condenados que se amontoam: jovens, velhos, desempregados, desqualificados, desintegrados, toda a espécie de gente, hoje convertida em frangalho humano.
A única reforma do Estado com sentido e de que necessitamos seriamente é a única reforma que não podemos ter na atual situação: a reforma dos carrascos, a reforma do pessoal político. Precisávamos de varrer o Estado, central e local, de produtos tóxicos. Precisávamos de os varrer das instituições, onde se entrincheiram e alapam, para nossa perdição."
http://www.tsf.pt/Programas/programa.aspx?content_id=918338&audio_id=3670867 a Universidade Portuguesa em análise,a não perder.Entrevista com Moisés Lemos Martins
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