"Quando temos uma saudade, não é falta, é presença, é uma visita, chegam pessoas, países, de longe e fazem-te companhia." Com que então, dom Rafaniè, todas as vezes que sentir uma falta, terei de lhe chamar presença? "Claro, que é para dares as boas vindas a cada falta, para a receberes bem." Então depois de teres voado, eu não devo sentir a vossa falta? "Não, diz, quando calhar pensares em mim, eu estarei presente." Escrevo no rolo as palavras de Rafaniello que viraram a falta do avesso e assim está melhor. Ele trata os pensamentos como os sapatos, revira-os no banquinho e arranja-os.
(...) Quando sonhamos voar, não temos peso, não precisamos de convencer a força a manter-nos levantados. Mas quando chegam as asas e o corpo tem de se preparar para subir ao ar, então é preciso violência para nos levantar do chão, um salto como uma facada, que tem de nos arrancar do colo com um corte.
(...) As asas são boas para os anjos, num homem pesam. A um homem para voar tem de lhe bastar a oração, ele sobe acima das nuvens e chuvas, acima de tetos e árvores. O nosso meio para voar é a oração."
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