Percebemos o tempo a tombar, cumprindo o seu circuito impiedoso, quando a queima das fitas passa a ser, apenas, um ritual distante de memórias distorcidas, contraditórias, agradáveis, mas irrepetíveis. Há dez anos, o mês de Maio representava uma maratona acelerada num carrosel de concertos, bebedeiras curadas em cima de bebedeiras, noites sem dormir, mesmo que estivesse muito frio, e às vezes estava, sempre a correr, cortejos de declarações inteiras, t-shirts de curso com tinta desbotada para a posteridade, vai-e-vém de autocarros e boleias, o dobro dentro da lotação de cada carro, todos juntos, todos frenéticos para sorver da vida cada milésimo de segundo. Nada se perdia. Braga no coração - santoinho de todas as perdições -, o Porto ali ao lado - "Love is in the air", braços no ar e a ambulância a levar um dos nossos - Coimbra na recta final da semana, Vila Real ainda a seguir. Nada nos escapava. Era a semana de todos os cansaços; semana de cansaço nenhum. A vida era maior do que isso.
Atentamente observados de fora, ninguém daria nada por nós. Nós que, de manhã cedo, já tinhamos emborcado várias garrafas de Whisky, armado confusão em todas as paragens, montado a tenda no meio da estrada. Não era assim para nos orgulharmos; era assim porque era assim. Sem legendas. Imensamente felizes, profundamente unidos, desastradamente loucos. Ninguém se perdeu. Pelo contrário. Fomos os únicos a nunca duvidar.
Tentámos, nos anos seguintes, fazer de conta que éramos, ainda, parte daquilo. Daquele sempre inesquecível Maio maior. Mas passámos a ter relógio. O tempo muda tudo. E - é verdade - nunca devemos voltar ao local onde fomos felizes. Hoje, quando chega o período da Queima, dou comigo, apenas, a querer que não me marquem essa reportagem. Marcam sempre, não sei porquê. Mas sei que devia ser proibido. Os rituais dos outros assassinam os nossos.
Atentamente observados de fora, ninguém daria nada por nós. Nós que, de manhã cedo, já tinhamos emborcado várias garrafas de Whisky, armado confusão em todas as paragens, montado a tenda no meio da estrada. Não era assim para nos orgulharmos; era assim porque era assim. Sem legendas. Imensamente felizes, profundamente unidos, desastradamente loucos. Ninguém se perdeu. Pelo contrário. Fomos os únicos a nunca duvidar.
Tentámos, nos anos seguintes, fazer de conta que éramos, ainda, parte daquilo. Daquele sempre inesquecível Maio maior. Mas passámos a ter relógio. O tempo muda tudo. E - é verdade - nunca devemos voltar ao local onde fomos felizes. Hoje, quando chega o período da Queima, dou comigo, apenas, a querer que não me marquem essa reportagem. Marcam sempre, não sei porquê. Mas sei que devia ser proibido. Os rituais dos outros assassinam os nossos.
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