Casar o melhor amigo é mais ou menos como casar um filho único. Sabemos que temos que o deixar ir, mas não conseguimos evitar o travo de um certo abandono. Sabemos que o amor que nos une é necessariamente diferente - nem melhor nem pior, nem maior nem menor - do amor que o liga à pessoa que entretanto o resgatou, mas não conseguimos não reclamar a antiguidade do posto. Ficamos felizes se ela o fizer feliz, claro, mas nunca conseguiremos aceitá-la plenamente. Se ela o magoar, é uma mulher morta. Ela conhece o risco.
Casei ontem o meu melhor amigo com a inevitável pirâmide de contradições egoístas no peito. Mas com a certeza de um privilégio maior que, sei agora, nem todos alguma vez experimentaram. Já não somos os melhores amigos; não, agora somos irmãos de coração - impermeáveis a tudo. Também ao casamento.
Há uns anos largos, amigos à prova da bala, da distância, do apuramento de personalidade, do sufoco profissional, das crises existenciais e dos encantamentos efémeros, decidimos imitar a Julia Roberts e o Dermot Mulroney, prometendo casar um com o outro se aos 30 anos ainda estivéssemos solteiros. Ele casou na véspera do aniversário; a promessa perdeu a validade. Mas depois de termos atravessado a infância, a adolescência e o início da vida adulta a jurar quase diariamente aos pais, aos amigos, aos amigos dos amigos que não, não éramos namorados, nem amantes, nem apaixonados platónicos; e que não, não vacilávamos um com o outro, nem adiávamos qualquer espécie de inevitabilidade, não estava preparada para a sucessão de perguntas monocórdicas a que tive de responder. A mãe da noiva: "Ah, então tu é que és a pessoa X?"; A mãe do noivo: "Ah, sempre decidiste vir?"; A irmã do noivo: "Já tinha perguntado por ti. Estás bem?"; Os amigos do noivo: "E agora?"
E agora, só quem nunca soube o que é amizade a sério, tão-mas-tão-a-sério, duvida da possibilidade da amizade entre dois sexos sem qualquer interferência de outra natureza. "Deixa-os lá. Entre nós, não muda nada". Eu sei.
"I say a little prayer for you
Forever, and ever, you'll stay in my heart
And I will love you
Forever, and ever, we never will part
Oh, how I love you
Together, together, that's how it must be".
Casei ontem o meu melhor amigo com a inevitável pirâmide de contradições egoístas no peito. Mas com a certeza de um privilégio maior que, sei agora, nem todos alguma vez experimentaram. Já não somos os melhores amigos; não, agora somos irmãos de coração - impermeáveis a tudo. Também ao casamento.
Há uns anos largos, amigos à prova da bala, da distância, do apuramento de personalidade, do sufoco profissional, das crises existenciais e dos encantamentos efémeros, decidimos imitar a Julia Roberts e o Dermot Mulroney, prometendo casar um com o outro se aos 30 anos ainda estivéssemos solteiros. Ele casou na véspera do aniversário; a promessa perdeu a validade. Mas depois de termos atravessado a infância, a adolescência e o início da vida adulta a jurar quase diariamente aos pais, aos amigos, aos amigos dos amigos que não, não éramos namorados, nem amantes, nem apaixonados platónicos; e que não, não vacilávamos um com o outro, nem adiávamos qualquer espécie de inevitabilidade, não estava preparada para a sucessão de perguntas monocórdicas a que tive de responder. A mãe da noiva: "Ah, então tu é que és a pessoa X?"; A mãe do noivo: "Ah, sempre decidiste vir?"; A irmã do noivo: "Já tinha perguntado por ti. Estás bem?"; Os amigos do noivo: "E agora?"
E agora, só quem nunca soube o que é amizade a sério, tão-mas-tão-a-sério, duvida da possibilidade da amizade entre dois sexos sem qualquer interferência de outra natureza. "Deixa-os lá. Entre nós, não muda nada". Eu sei.
"I say a little prayer for you
Forever, and ever, you'll stay in my heart
And I will love you
Forever, and ever, we never will part
Oh, how I love you
Together, together, that's how it must be".
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