Quantos dias faltam para que Madeleine McCann deixe de ser notícia? Dois? Menos? Quando o caso mais mediático de um desaparecimento (Rapto? Crime?) deixar de cravar os olhos da populaça à televisão e aos jornais ficarão as cruas questões de sempre por responder. Mas até quando? Até quando será possível aceitar que crianças se evaporem sem, aparentemente, haver a quem recorrer com imaculada eficácia?
Maddie é bela, é rica, é inglesa. O último factor - ancorado em toda a tabloidização do país de origem - terá sido maior alavanca para o mediatismo do caso do que os dois primeiros, embora também esses delírios tenham sido usados para explicar o circo global. Maddie não é especial; Maddie é todas as crianças que desapareceram. E só nestes 21 dias, afirma hoje o DN, já desapareceram 800 menores no Reino Unido. É um grito anónimo a dizer "Basta!" Basta de investigações que esbarram invariavelmente num obstáculo que é sempre invisível. Quem são os pedófilos? De onde lhes vem a capa que lhes possibilita seguir incólumes e, muito provavelmente, a perpetuar sórdidos malabarismos? Onde estão? Serão os colarinhos brancos que mandam no país? Na Polícia Judiciária? Quem os protege? O nacionalíssimo caso Casa Pia, na sua ínfima escala, oferece algumas respostas...
É indiferente se a pedofilia é uma doença ou uma perturbação de qualquer ordem. Facto é que o pedófilo pé-descalço ataca a sobrinha, a filha ou a filha da vizinha. Não raras vezes é apanhado e mais vezes ainda apanhado em flagrante. O outro pedófilo, o que entenderá que é retorcido mas se encara a si próprio como um indivíduo normal de preferências legítimas, integra redes onde ninguém, estranhamente, parece conseguir entrar. Como funciona uma rede de pedofilia? Não será mais importante responder a isto do que entrar nessa onda contestatária, e estéril, em que muitas pessoas parecem estar a entrar, questionando por que não houve a mesma mediatização para outros casos e incentivando outros pais a indignarem-se por não terem beneficiado dos mesmos recursos? A questão crucial é: se nem com esta parefernália de meios se chega a algum lugar, o que estará errado? Se esta investigação conduzir ao aparecimento de Maddie, aí sim, deverá questionar-se porque razão noutros casos não foi despendido o mesmo tempo.
O que pode esperar-se de um país (de um mundo?) que só chora uma criança enquanto a comunicação social a quiser chorar também? E quando ninguém a chorou, o que mudou? Nada! Ninguém pode substituir-se à Justiça, à Judiciária, à Lei, por muito falidos que todos esses sistemas estejam. Não estará mais do que na altura de questionar os procedimentos? De os questionar a sério? Com agulhas? Onde fica a responsabilidade individual de cada um de nós?
A reputação de Robert Murat! Grande celeuma! Se a Câmara de Lisboa caiu só porque Carmona Rodrigues é arguido num caso de gravidade infinitamente inferior, porque raio há-de ter-se cautela com o principal suspeito do desaparecimento de Maddie? Daqui a meio ano já ninguém se lembrará dele. Daqui a meio ano talvez a criança ainda não tenha aparecido. Talvez Murat, Malinka e outros pervertidos sejam os últimos a rir. E nunca, nunca ninguém mais há-de lembrar-se... até ao dia em que a criança for a nossa. Mas os pedófilos não conseguem roubar as crianças todas do mundo. Portanto, a maior parte das consciências estarão ilibadas.
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