quarta-feira, maio 16, 2007

Avenida Paulista


[Foto: Ricardo Meireles]

Quando um cronista que acompanho religiosamente salta para a ribalta com uma compilação de textos publicados numa revista qualquer acontece-me ser invadida por uma raiva turbulenta, mas facilmente explicável. Não passo anos e anos a criar dossiers de autor com recortes de imprensa temática e cronologicamente tratados e enfiados dentro de pijamas transparentes para depois vir uma editora desvalorizar essa dedicação minuciosa, oferecendo a todos com facilidade aquilo que me custa horas de empenho. Empenho e, sim, eu sei, ilusão de raridade.

Com João Pereira Coutinho, de quem acaba de ser editado "Avenida paulista", selecção de 45 crónicas - entre sambas e chorinhos e com direito a encore - publicadas semanalmente na Folha de S. Paulo, oferecidas com a revista Sábado desta semana, e não acessíveis n'O Sítio de forma integral, foi diferente. Os textos que agora acabo de ler são tão mordazes e, por isso, tão bons como todos os outros: os do Expresso e os do Independente (reunidos em ‘Vida Independente: 1998-2003’, publicado em 2004). Mas, também, tão bons como os do Jornal de Matosinhos. E esses nunca foram publicados em livro. Duvido que alguma vez sejam.

Nessa altura, 1995 ou 1996, o João, sendo ainda praticamente um menino - devia ter uns 19, 20 anos -, embora já ostentasse aquela pose severa, era o João sem medo. Escrevia como nunca ninguém escreveu num jornal paroquial. Dava comigo, em Braga, a implorar que me comprassem o Jornal de Matosinhos. Até que um dia desafiou Narciso Miranda e foi parar ao Tribunal. Já não me lembro se ganhou. Mas desde essa altura que sei que se o João fosse um cavalo e as crónicas uma corrida de hipismo valeria a pena apostar nele.

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