Havia um desperdício enorme no que eu amava e eu pensava não podes desperdiçar o desperdício. O que é que se ama numa mulher? Porque se ama só a pele e um pouco da pele mais para dentro. O resto, que é afinal o que mais se ama, não existe. (...) Gostava de saber porque te amo nesta forma estranha de te não ter amado nunca. Houve primeiro a ausência de Bárbara em ti e que deixava um sinal de presença como uma flor seca num livro. Mas depois cresceste sobre isso e deitei a flor fora. E não precisei de procurar quem me arrefecesse a parte mais quente do meu ser vital. Porque o amor é assim, tem o lado mais quente com que se é aos sacões e instável e o lado morno com que se é contínuo e estável.
(...) O que perturbava agora era essa estranha inquietação de um amor que não houve senão quando planificado na simples afeição de estarmos juntos. Eu com ela e ela comigo, penso. De a vida se resolver por si na quietude de haver nela o belo e o horrível, a alegria e o sofrimento. Tudo tinha arrefecido ao longo dos anos, como podia haver calor para antes disso? O que tivesse havido era frio de depois, mas nem houve. Mas sofre-se pelo que nos levam, mesmo que tencionássemos deitá-lo fora. Porque o nosso orgulho é imenso e a humilhação dele também.
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