“Saturday Night” desenvolve os fascínios do trabalho mais recente de Matthew Lenton da companhia teatral escocesa Vanishing Point – o aclamado e multi-premiado “Interiors” – espectáculo que trouxe para a linha da frente da cena internacional uma companhia que se destaca por uma linguagem refrescante, evocativa e hipnótica, e que conta as suas histórias partindo mais do que vemos (como se o palco fosse uma janela indiscreta) do que nos é dito por palavras.
Quando olhamos para uma fotografia, fazemos uma leitura profunda de uma única imagem, imaginando a história que ela conta. Deixamos a nossa imaginação agir sobre essa imagem. “Saturday Night” é sobre os ambientes que criamos para nós próprios e chamamos “nossa casa”, os sonhos que construímos juntos, os segredos que mantemos uns dos outros.
Explora uma poderosa combinação orgânica de performance teatral, música e vídeo começando com uma série de imagens misteriosas, precisas, belas, intensificadas e pormenorizadas, cada uma delas acompanhada de uma peça musical, cada uma delas a contar uma história. Os pontos de partida deste trabalho de Matthew Lenton incluem fotografias de Gregory Crewdson – famoso pelas suas imagens encenadas de casas e subúrbios de uma América crepuscular e surreal –, de Tom Hunter e de In Sook Kim, que fantasia sobre o universo privado de pessoas que vivem em edifícios transparentes.
Estamos a observar através das janelas de uma casa, com um jardim: salas diferentes, pessoas diferentes. O que decorre lá dentro é um mistério a ser descortinado e construído. Quem é o jovem casal que chegou recentemente? Que está ele a fazer na casa de banho? Quem é aquela presença estranha no andar acima? E o que está a movimentar-se no jardim? Vemos tudo. Não ouvimos nada. As pistas estão lá. Quem são os protagonistas? O que fazem ali? Será a sua relação amigável ou perigosa? Há um mistério que temos de resolver. Somos, com efeito, voyeurs activos, que detectam sentidos nos intrincados pormenores e pistas oferecidos pela imagem. Quando a imagem começa a mover-se, como num programa de televisão, os seus elementos e a relação que estabelecem entre si tornam-se menos significativos. Aparentemente, já não nos sentimos levados a fazer a nossa própria leitura de uma imagem. Em vez disso, esperamos que nos seja mostrado o que a imagem vai revelar.
Uma misteriosa trama de histórias e incursão na experiência do voyeurismo, “Saturday Night” inspira-se nesse lugar a que chamamos “lar” e nos perigos que inesperadamente o invadem.
Companhia Vanishing Point, hoje, 22 horas
Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor, Guimarães
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