Enquanto a maioria se revela e debela pela luta do Rivoli, Rui Rio sorri. Mesmo que o seu sorriso venha embrulhado em vinganças perigosamente infantis (deveria dizer canalhas?) e estratagemas de exclusão, provavelmente apreendidos no orgulho do seu colégio alemão. Sorri porque ele, mais do que qualquer outro, saberá que quanto mais as pessoas da cidade estiverem focalizadas num único assunto - a perda do Teatro Municipal com tudo o que isso significa de subtração de diversidade cultural -, mais aos olhos do país parecerá que o assunto não basta para tamanha insatisfação. O mesmo defenderá - e defende - o olhar mais distraído, ou menos exigente, dos cidadãos do Porto - seguramente os que nele votaram. E nesse arco de posições extremadas, Rio sentir-se-á salvo porque, aparentemente, vítima da obsessão de um grupo que ele considera reduzido.
Só ele sabe o jeito que este circo lhe dá.
Se o Rivoli fosse a única imagem da inércia cultural da cidade já seria suficientemente grave (por razões vastamente conhecidas e que não me apetece repetir). O problema é que a atenção mediática (mediática, mas tragicamente impotente) que o Teatro ganhou serve, apenas, para encobrir os problemas todos dos outros equipamentos que o seu Executivo impunemente delapidou.
A Casa de Cinema Manoel de Oliveira, onde está? Empatada há quatro anos, grafitada e cercada de matagal. Sem vergonha, a Câmara colocou o cineasta a pagar a renda do apartamento que ela própria arrendou para catalogar o seu acervo.
Os Ateliers da Lada, para que servem? As casas que deveriam ser, como foram em 2001, residência para artistas nacionais e internacionais criarem e projectarem o seu trabalho no Porto estão agora a servir de albergue pontual para uns quantos que foram desalojadas pela autarquia.
O Cinema Batalha, como está? Gerido por Laura Rodrigues da associação de comerciantes numa negociata que nem Deus saberá, rasteja entre a cantina de bairro e os bailes de paróquia num nível de exigência mais do que deprimente. Ela jura que teve 500 mil pessoas no ano passado. Alguém acredita?
O Teatro do Campo Alegre, que evolução sofreu? Esse espaço que iria servir, na voz de Rui Rio, para acolher as criações das companhias independentes da cidade. Todas menos uma: o Plástico ficou vedado por se ter barricado no Rivoli. Ah, a liberdade...
E o Edifício Transparente (esquizofrenia em grau terminal do PS, é certo) transformado em centro comercial? É sempre mais fácil converter tudo a tostões. Ou, pelo menos, à possibilidade de os ganhar. Haja restauração em força!
E depois, a cultura de Rui Rio não é só La Féria; não é só um lençol vazio. É, também, um improvável concerto dos Keane que a Câmara, vá lá saber-se porquê, decidiu promover em Agosto.
Viva Rui Rio! Viva!
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