Foi sempre assim; sempre assim há-de ser: em terra de cegos quem tem um olho é rei. E José Manuel Rodrigues Berardo - Joe, cá para nós - pode não dominar exactamente as curvas da língua portuguesa, fillho pródigo que foi fazer pela vida - qual sonho americano produzido em África - com mil e duzentos escudos na algibeira, mas regressou como um dos dez homens mais ricos de Portugal; pode não ter o sex-appeal de José Sócrates (para quem acha que ele o tem), mas lá foi distinguido com o grau de comendador pelo qual se faz tratar; nem a cultura formatada das academias da paróquia pelas qual todos se pelam - a vida por um título! -, nem conseguir identificar a verdade de um Mona Lisa, mas lá se transformou no maior coleccionador de arte contemporânea. E agora tem um Museu com o nome gravado, fogo de artifício pela noite dentro e - garante - é credor do Estado.
Joe dispara insultos, ideias e OPAs em todas as direcções e o país pára, desculpa-o, rende-se, estende-lhe a passadeira vermelha e abre-lhe o cofre. Ou o que dele resta. Às vezes, ganha; outras vezes, não - mas nunca perde. E da crista da onda, de onde ameaça não sair tão cedo, lá vai assistindo à submissão de um povo (políticos, artistas, benfiquistas, tudo incluído) que se verga com o deslumbramento bacoco de quem viu Deus.
Ontem, foi Rui Costa - "Fuck him!" - que foi para uma parte que não queria; hoje, foi Mega Ferreira a demitir-se do Centro Cultural de Belém vulgo Conselho de Fundadores da Fundação Colecção Berardo. Quem será o próximo?
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