sexta-feira, dezembro 06, 2013

Francisco Louçã: Mandela, "não me atrevo a demorar-me"



O anúncio da iminência da morte de Nelson Mandela foi antecipado pelo governo sul-africano, quando a deterioração do seu estado de saúde fo reduzindo as suas resistências. O mundo assistiu entretanto, de longe, às homenagens mais tocantes de crianças e famílias que deixavam um ramo de flores no passeio da sua casa, desejando evitar o inevitável.

Não sei o que cada um e cada um lembraria então deste homem. Uns, o seu compromisso com a luta armada contra o apartheid, porque mudou tudo. Outros, a sua vontade de libertar o oprimido e de libertar o opressor, porque mudou o necessário. Outros talvez a resistência de uma vida inteira na prisão, porque foi tudo. Alguns certamente a sua paixão pela liberdade: "A verdade é que não somos ainda livres; alcançámos apenas a liberdade de sermos livres, o direito a não sermos oprimidos", escrevia ele no fim da sua Autobiografia. "Não demos o último passo na nossa viagem, mas sim o primeiro de uma estrada ainda mais comprida e difícil". 

Não sei o que pensam os que agora se emocionam e, no entanto, sinto como eles. Sei o que lembrarei: coragem, a coragem que não sabe se resulta, que não sabe se vai ser premiada, que não sabe se morre sozinha, que não sabe se vai ser esquecida, que não sabe nada mais do que ser honesta consigo própria. E essa honestidade é uma força gigantesca, magnífica, rara, apaixonante.

No final da sua Autobiografia, Mandela escreve que "Percorri esse longo caminho para a liberdade. Tentei não fraquejar; dei passos errados ao longo do percurso. Mas descobri o segredo: que, depois de escalar uma grande montanha, apenas se descobre que há muitas mais montanhas para subir. Parei aqui um pouco para descansar, para deitar uma olhada à vista maravilhosa que me rodeia, para olhar para a distância, de onde vim. Mas posso descansar somente por um momento, porque com a liberdade vêm as responsabilidades - e não me atrevo a demorar-me, pois a minha caminhada ainda não terminou". Pois não terminou.

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