"Olhamos um para o outro, ela e eu. É como subir por aquelas encostas acima, cobertas de flores silvestres, sem acusar o menor sinal de fadiga. Já vivemos tantas experiências juntos, recordamos nós, até momentos de que não éramos especialmente merecedores, acontecimentos que nos teriam separado se não nos tivessem unido, e recordámos casos que esquecemos juntos - mas que não se esqueceram de nós! Foram pedras, umas escuras, outras claras, pedras de um mosaico delapidado. E agora sucede isto: os cacos que esvoaçaram reúnem-se, o mosaico fica restaurado. Fica à nossa espera.
(...) Fortalecemo-nos com os outros, mas também com nós próprios. Com aquilo que, dentro de nós, o outro não vê. Aquele que tem o seu igual só em si mesmo. O paradoxo mais profundo, a flor que brota do chão da garagem, o ventilador voltado para o negrume benéfico. Uma bebida efervescente num copo vazio. Um altifalante que emite silêncio. Um atalho que fica intransitável à medida que por ele avançamos. Um livro que só pode ser lido nas trevas."
Sem comentários:
Enviar um comentário