[Stefanie Schneider]
Naquele domingo, o pior ainda era só possibilidade, houve qualquer coisa que mudou para sempre, uma tristeza entretanto confirmada que veio para ficar. Nunca mais tirei a tua fotografia do quarto. Não é para não me esquecer de ti, lembro-me de tudo de ti; é para não me esquecer que queria ser como tu. Continuo a fazer o que fazíamos: a olhar para o céu, a procurar as constelações, agora a ti também, um sinal numa estrela, uma luz com voz. Mas nunca mais fui ao sítio onde te puseram. Primeiro ia todas as semanas, depois todos os meses, depois todos os anos, levava-te margaridas amarelas e brancas, as minhas preferidas por serem as tuas, as que falam de ti, da tua simplicidade, de como nunca pertenceste aqui, e pendurava nas flores espanta-espíritos de barro que quebravam como eu e não espantavam a dor. Nunca estiveste ali. Passei anos e anos a ver-te na rua, a ter a certeza que eras tu, a procurar-te nos outros, tinha tanta, tanta necessidade de saber onde estavas, se me ouvias, se só delirava. Era tudo tão diferente, teria sido tudo tão diferente... Não desisti de te procurar, de me encontrar em ti, acho só que estás mais perto, num lugar onde posso ver-te todos os dias. E ainda consigo ouvir-te rir.
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