
Portnoy, tal como Sabbath, é mais do que sexo. Em ambos os casos, está um indivíduo a braços com uma crise existencial a questionar as normas e as convenções da sociedade, da família (judaica, no caso), da religião. Neste caso, sentado no divã do psiquiatra, num longo, às vezes comovente e cómico monólogo. Mas sempre cheio de links para uma verdade maior: a da hipocrisia e das vidas falsamente felizes, desenhadas a régua e esquadro para caberem na forma onde é suposto todas caberem. Não é uma proposta de libertação, é antes uma digressão de reconhecimento pelas amarras impostas desde a infância. E de como elas se perpetuam. E travam tudo. E sendo irónico, ácido, quase cruel, é uma reflexão espantosamente actual.
"Por amor? Que amor? É por acaso o amor que une todos esses casais que nós conhecemos - os que ainda se dão ao trabalho de estar unidos? Não será algo mais parecido com a fraqueza? Não será antes o comodismo, a apatia e o sentimento de culpa? Não serão antes o medo, a exaustão e a inércia, a pura e simples falta de coragem, mais, muito mais do que esse «amor» com que eternamente sonham os conselheiros matrimoniais, os cançonetistas e os psicoterapeutas? Por favor, deixemo-nos de tretas, não vale a pena andarmos a iludir-nos sobre o amor e a sua duração. E por isso eu pergunto: como é que eu posso casar com alguém que «amo», sabendo perfeitamente que dentro de cinco, seis, sete anos vou andar por aí pelas ruas à caça de carne nova - enquanto a minha esposa dedicada, que construiu para mim um lar tão acolhedor, et cetera, resiste estoicamente à solidão e ao abandono? Como é que eu poderia enfrentar as suas lágrimas terríveis? Não poderia. Como poderia enfrentar os meus filhinhos adorados? E depois o divórcio, não é? O sustento dos filhos. A pensão de alimentos. Os direitos de visita. Belas perspectivas, belíssimas."
E os finais. Sempre os finais terríveis de Roth!
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