"A destabilização que a sociedade de hiperconsumo provoca [...] afecta a própria identidade das pessoas excluídas do paraíso mercantil. Num mundo invadido pelo mercado, a pobreza ganha um novo rosto, até por terem desaparecido as antigas culturas da pobreza. A maioria actual foi educada num universo de bem-estar e todos aspiram a fruir o consumo, os lazeres e as marcas. Cada indivíduo, pelo menos em espírito, é um hiperconsumidor. Os que foram educados num cosmos consumista e não podem beneficiar dele vivem a sua condição com um sentimento de frustração, de desvalorização de si e de fracasso pessoal. Numa época de consumo excrescente, o subconsumo é portador de exclusão, de vergonha de si, de auto-estigmatização: pedir ajuda social, poupar no essencial, estar atento a todas as despesas, privar-se de tudo, não poder limitar as despesas ao rendimento anual. Nos nossos países, embora o capitalismo de hiperconsumo tenha feito desaparecer a miséria absoluta, faz agora aumentar a miséria interior e o ressentimento dos que não podem ter acesso à felicidade consumista prometida a todos, por viverem uma "subexistência".
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