Demissão de Fernando Almeida: Não há pachorra para os colunistas, vereadores da Oposição, actores e encenadores da praça que agora vêm elogiar as inequívocas qualidades do ex-vereador da Cultura do Porto no seu percurso profissional extra-camarário. Não há pachorra porque nunca isso esteve em causa. No contexto, qualidade seria reconhecer os seus limites e ter capacidade de não aceitar um cargo para o qual não tem manifestamente competência ou margem de manobra. Qualidade seria ainda assumir imediatamente a ruptura quando atinge, seja por que razão for, um ponto de saturação. De preferência, através de outro veículo que não o do silêncio. Aceitar o timming de Rui Rio para anunciar uma demissão que já era conhecida pelo menos há duas semanas nos corredores, e ainda por cima disfarçá-la de incompatíveis compromissos profissionais, tentando aparecer como um infeliz sacrificado, em nada o dignifica. Nem a ele nem a essa cada vez mais misteriosa actividade chamada política.
Passagem-de-ano nos Aliados: Passei pela Baixa do Porto no último dia de 2006 a meio da tarde. E vi a parafernália de palcos e tendinhas patrocinada pela Sport Zone a ser montada nos Aliados. Não resisti a procurar um cartaz para saber o que reservava o programa nocturno. Sem surpresa: Quim Barreiros. O povo dança e Rio Rio agradece. O que distingue o Porto de uma aldeia?
Cabaret Molotov: Fui assistir ao segundo round da peça encenada por João Paulo Seara Cardoso para o Teatro de Marionetas do Porto, no Convento de S. Bento da Vitória. As cadeiras instaladas num salão improvisado (e o mais inadequado possível para aquele tipo de espectáculo) estavam todas ocupadas e o desempenho dos actores é inatacável. Mas no fim, quando vieram receber os aplausos, imensos e justos, foram incapazes de esboçar o mais ténue sorriso. Pareciam quase desconfortáveis. Fiquei a pensar no que aquela súbita timidez representa. Fiquei a pensar no que sentem actores que insistem em actuar numa cidade que rejeita a esmagadora maioria das manifestações culturais. Pensei que se Rui Rio por uma vez assistisse a uma peça de teatro talvez pudesse mudar a sua estratégia. E fiquei a pensar onde estarão as salas alternativas que diz ter para o teatro; essas que ele diz que vai lá “pega e paga”.
Casa da Música: 2007 é o ano de Pedro Burmester – o primeiro em que apresentará a sua programação na instituição e em que será possível confirmar, ou não, a razão de tanta gente ter defendido o seu lugar no equipamento como director artístico. Espero que a entrada de Guta Moura Guedes, posterior ao regresso do pianista, não confunda os mais distraídos na atribuição do mérito, se o houver, a quem é devido.
Execução de Saddam Hussain: Sou contra a pena de morte. E não é pelo nobre elogio da vida ou porque sou incapaz de reconhecer a alguém a autoridade para ceifar a vida de outrem. Sou contra a pena de morte sobretudo pelo que ela, no seu fim, contém de libertação. Um ditador morto por uma ínfima parte dos seus crimes incomoda-me. Incomoda-me a ausência de sofrimento prolongado. E incomoda-me que a sua morte, longe de resolver a guerra do Iraque, sirva apenas para a incendiar. Incomoda-me quase tanto como as aliviadas declarações de George Bush. Que pena não ser possível assistir também ao seu julgamento. Sem pena de morte.
Balanço televisivo Eduardo Cintra Torres: Um crítico a servir-se de um jornal de referência para exercer uma vigança em duas páginas inteirinhas contra a decisão do Conselho Regulador da ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social). De acordo com ECT, a condenação do Conselho relativa ao texto onde escreveu que o Governo teria pressionado a RTP para não dar relevo aos incêndios florestais desse dia, protagoniza um dos piores momentos do ano. Diz ele sobre ele próprio. Lamentável. Para ele e para o Público.
Aulas de compensação: Nas férias de Natal reencontrei a mais temida professora que tive em todo o secundário: nunca faltou, nunca se atrasou, nunca admitiu barulho nas aulas ou desconhecimento sobre a matéria dada. Jantámos e conversámos até perdermos a noção das horas. Aproveitei a oportunidade para a questionar sobre as medidas da Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, que sempre me pareceram absolutamente dignas de distinção. E a resposta chegou certeira: “É a melhor ministra que a Educação alguma vez teve. Passei anos e anos a ver colegas cansados na sala de professores sem darem uma única aula, sem prepararem um único assunto; a chegarem ao fim do ano lectivo sem saberem o nome dos alunos; a fazer intervalos em aulas de uma hora…” Era a reacção que esperava. Será que um professor de Matemática só sabe matemática? Será assim tão limitado? Limitado ao ponto de não conseguir dar uma aula sobre cultura geral? E os alunos, esses que apareceram nas mais ridículas manifestações de rua a não saber sequer conjugar correctamente os tempos verbais das frases que cuspiam, serão tão pobres ao ponto de se deixarem manipular pelos professores?
Atentado da ETA: Os espanhóis são demasiado dados a manifestações de rua. Ao mínimo sinal de contrariedade juntam-se aos largos magotes em desfiles solenes. Nada contra. Mas pedir a demissão de Zapatero por ter tentado tréguas com o grupo separatista é, no mínimo, rídiculo.
Sabe uma coisa, Helena,
ResponderEliminarNeste jogo de paixões em que a CdM se tornou tende-se sempre para um lado qualquer, não se esqueça por isso que também "do lado" da GMG haverá também quem ache que a adesão do público se ficará a dever à estratégia de divlgação e de captação posta em prática pela senhora e não à programação (porque esta até nem será!? grande coisa). Posto isto, porque não aplicar ao caso em concreto a permissa milenar que diz que, a haver, o mérito e o demérito das acções deve ser sempre partilhado por todos os directamente envolvidos.
Um bom ano para si.