quinta-feira, junho 15, 2006

Soco no estômago

Tem os pés descalços. Melhor, um dos pés. O outro não existe. Nem a perna. Tem o cabelo sempre todo emaranhado, espécie de confusão de rastas involuntárias. E sobre a pele morena, uns olhos verdes, grandes, luminosos, que desviam a atenção dos olhares dos outros da cadeira de rodas onde está sempre depositada, ali, no meio da estrada, quase sempre em frente ao Hotel Ipanema Park, a caminho da Foz. Os carros passam, desviam-se. Às vezes param. Ela rodopia, nunca sorri, estende a mão e regressa à linha que divide as duas faixas de rodagem. Quando há jogos do Mundial e a cidade fica vazia, ela continua lá. Quando os trovões caem do céu para se estatelarem no chão como caixas de sapatos com lâmpadas, também.

3 comentários:

  1. Um verdadeiro soco no estômago foi exactamente o que voltei agora a sentir ao ler esta nota e ao recordar uma manhã de domingo em que deparei com aqueles imensos olhos verdes, nesse mesmo cruzamento...

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  2. Vivi a mesma sensação há duas semanas, numa manhã de um domingo solarengo. Por várias vezes me tem ocorrido a imagem desta rapariga com olhos bonitos e cara enfeitada. Quem é ? Tem pais ? Tem irmãos ? O que aconteceu ? Aquele domingo era esporádico ? Parece que não.
    Parece que o soco no estomago tem sido dado a muita gente. Haverá alguém disponivel para organizar algum apoio ? Memso de Lisboa estou disponível para apoiar na medida do possível ou tentar arranjar apoio no Porto.

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  3. Não sei quem é ou porque está ali. Nunca tive coragem de parar, de conversar... Mas depois disto, talvez o faça.

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