Nem sempre é possível começar outra vez. Começar como se nada tivesse existido antes. Mas, às vezes, acontece. A Casa da Música começou ontem outra vez. Excluindo Miragaia, foi talvez o local com maior concentração de gente.
Confesso que duvidei da adesão da cidade à Orquestra Nacional do Porto num dia em que, teoricamente, a folia será menos exigente. Duvidei ainda da escolha de Jorge Palma (por muito que goste dele) e do regresso ao passado com os "Taxi". Mas há alturas em que enganarmo-nos sabe melhor do que ter razão. Enganei-me e soube-me bem. O público, dentro do tenebroso-por-fora-belíssimo-por-dentro auditório desmontável, aplaudiu as peças de Tchaikovsky, Brahms e outros compositores de pé, trauteou as canções todas de cor com o carismático autor de "O bairro do amor" e agradeceu a reunião exclusiva do grupo português dos anos 80 que canta "chiclete, usa, mastiga e deita fora" e outras pérolas. Houve um fio de emoção que percorreu baixinho, tímido, discreto a pele de algumas pessoas. Pessoas dos tempos das rádios piratas, das bandas de garagem. Eu estava lá; eu vi. E isso tornou aquilo ainda mais bonito.
Não foi perfeito? Não sei se teria que ser. Sei que, por uma vez, a Casa da Música foi de todos. E por uma vez foi bom sentir, mais do que simplesmente perceber, a razão da sua existência.
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