segunda-feira, maio 29, 2006

Saudade


Trinta páginas para dizer a saudade. Ortega y Gasset, exilado em Portugal e à beira dos 60 anos, não precisou de mais. O livro, da Sete Caminhos, foi editado em Novembro do ano passado. Eu descobri-o agora.
"De que coisas humildes se sente saudades? Não esqueçamos que o característico do problema é a penetração, a impregnação de toda a vida pela saudade. A saudade erótica é universal e dá-se com quase parecida frequência em todos os povos. O que não é de todos é senti-la, e senti-la com tanta frequência, por inumeráveis coisas pelas quais os outros não a sentem".

domingo, maio 28, 2006

This is the last time

This is the last time
That I will say these words
I remember the first time
The first of many lies
Sweep it into the corner
Or hide it under the bed
Say these things they go away
But they never do
Something I wasn't sure of
But I was in the middle of
Something I forget now
But I've seen too little of

The last time
You fall on me for anything you like
Your one last line
You fall on me for anything you like
And years make everything alright
You fall on me for anything you like
And I no I don't mind

This is the last time
That I will show my face
One last tender lie
And then I'm out of this place
So tread it into the carpet
Or hide it under the stairs
Say that some things never die
Well I tried and I tried

Something I wasn't sure of
But I was in the middle of
Something I forget now
But I've seen too little of

The last time
You fall on me for anything you like
Your one last line
You fall on me for anything you like
And years make everything alright
You fall on me for anything you like
And I no I don't mind

The last time
You fall on me for anything you like
Your one last line
You fall on me for anything you like
And years make everything alright
You fall on me for anything you like
And I know I don't mind

quarta-feira, maio 24, 2006

"Um homem honrado"

"Rui Rio não rouba e desfaz"

Hilda Hilst: Cartas de um sedutor


"Agora, pela primeira vez me chamou de meu amor, e disse que assim que me viu sentiu uma coisa aqui dentro, ó, aqui no coração. Súbito, senti nojo daquele bem-estar, daquela ternura, da possível devoção daquela mulher. Inexplicavelmente desejei que ela não estivesse ali. Que se fosse. Mas como evitar lágrimas, perplexidade, explicar-lhe que sentia náusea e desespero agora por aquela invasão? E como se guiado por alguém, possuído, fui até a cozinha, peguei numa faca e com um único golpe matei-a".
 

terça-feira, maio 23, 2006

Tempo

Quantos dias demoram 15 dias a passar?

sexta-feira, maio 19, 2006

Energúmeno

Nos últimos meses tenho-me debruçado sobre a diferença de significado entre o que o jornalista escreve e o que o leitor lê. Ingenuamente - reconheço agora -, tomei como objecto de estudo para a tese de mestrado - "O impacto do discurso jornalístico nos bairros sociais do Porto. Representações sociais." -, as classes desfavorecidas da cidade, convicta de que seriam essas as pessoas mais susceptíveis de subverter a interpretação do discurso. Nomeadamente, porque denotam genuína dificuldade na distinção entre notícia e crónica.
A sentença hoje proferida pelo juiz Carlos Coutinho, que condenou o cronista do "Público", Augusto M. Seabra, a uma multa de 2140 euros e a uma indemnização de 4000 euros, acrescidos das respectivas custas judiciais, por ter escrito que Rui Rio, autarca portuense, é um energúmeno, devolve-me bruscamente a uma nova realidade, tão ou mais dramática do que a dos ghetos. A de que a liberdade de expressão é um direito adquirido pela metade, e que oscilará de acordo com o estatuto social de cada um.

O caso remonta a Julho de 2003, altura em que Rui Rio exigiu que Pedro Burmester se demitisse da Casa da Música, na sequência de uma entrevista ao JN, na qual o pianista criticara a (ausência de) política cultural da Câmara. Rio exigiu a demissão porque vive num estado de autismo terminal que o leva a ignorar que vivemos, "todos", em democracia, que o impede de tolerar a crítica, inibindo-o de reconhecer as suas próprias deficiências. Pasme-se: a exigência de Rio não foi considerada abuso de poder, nem atentado à honra e bom nome e trabalho de Burmester.
Já sobre o comentário de Augusto M. Seabra considera o tribunal que "não houve por parte do arguido uma preocupação cívica de respeito pelo destinatário". Mais grave: o juiz afirmou ter tido em consideração que o assistente é uma figura pública e que, como tal, está sujeito a um determinado número de situações, críticas e injustiças, mas apesar disso considera que "tem que haver restrições".
Será um prazer integrar Rui Rio e Carlos Coutinho na minha tese de mestrado que, a partir de agora, seguirá outros rumos. (Voltarei ao assunto.)

Cannes



Não é novidade nenhuma: os críticos de cinema vivem num universo próprio, muitas vezes à beira de um autismo do qual naturalmente se orgulham, porque o encaram como uma espécie de superioridade intelectual que o comum dos mortais jamais conseguirá atingir. É uma espécie de convenção; já ninguém se zanga. Mas depois, quando têm que fazer mais do que pura crítica - reportagem, por exemplo -, baralham-se todos. Quase todos. E, às vezes, transformam uma "pomba solitária" na protagonista de um texto francamente mau, para não me perder em adjectivos mais apurados.
Por outro lado, a ascenção do cinema asiático com passaporte para as salas do mundo, mesmo que à boleia de uma qualquer polémica, é um bom indicador. Os melhores fimes que tenho visto vêm desse lado. Fico a aguardar "Summer Palace", do realizador chinês Lou Ye.

quinta-feira, maio 18, 2006

Vilar de Mouros - 35 anos


No meu ranking pessoal de festivais de Verão, Vilar de Mouros só aparece em terceiro lugar. Este ano, no entanto, há uma razão de peso para lá ir: a oportunidade de ver os Durutti Column, banda saída da prodigiosa fornada de Manchester dos anos 80. Sobreviveu a todas as modinhas musicais e continua aí, viçosa e imperdível, ainda por cima com um fabuloso novo disco, “Keep breathing”.

quarta-feira, maio 17, 2006

Última oportunidade


A exposição de Frida Kahlo (1907-1954 - vida e obra) patente no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, termina já no próximo domingo. Devido à afluência de público, quase cem mil visitantes, a mostra poderá ser excepcionalmente vista até às 22 horas, na sexta e no sábado. Vale mesmo a pena.

terça-feira, maio 16, 2006

Top ten dos teimosos nacionais

Os maiores, nem todos por más razões, e não necessariamente por esta ordem: (sujeito a actualização)

1. José Sócrates, primeiro-ministro
2. Felipe Scolari, treinador de uma fatia da Selecção
3. Marcelo Rebelo de Sousa, professor-comentador do que lhe meterem na mesa
4. Jorge Nuno Pinto da Costa, dirigente do grande FCP
5. Manuel Maria Carrilho, político incompreendido
6. Rui Rio, Presidente da Câmara do Porto e porventura o mais sério do país
7. José António Saraiva, director do futuro semanário "Sol"
8. Souto Moura, ainda e enquanto o deixarem, procurador geral da república
9. Mário Dorminsky, visão sempre multiplicada por altura do fantas
10. Belmiro de Azevedo, que ensinou o povo a dizer OPA

Fogo cruzado na autarquia

É sempre assim, asseguram-me. Mas a repetição continuada do comportamento institucional não só não diminui a indignação como a potencia. A reunião da Assembleia Municipal do Porto começou ontem às nove horas da noite. Acabou perto da uma da manhã. Havia seis pontos em apreciação. Conseguiu discutir-se e votar-se, apenas, um. Porquê? Não foi pela elevação do debate nem pelo confronto da proliferação de ideias eficazes, que poderiam contribuir para melhorar a vida da cidade e de quem por lá passa, trabalha ou reside. Em quatro horas, o que mais se ouviu foi piadas (más, ainda por cima), insultos disfarçados com uma espécie de celofane - truque que por certo se aprenderá nos meandros políticos -, um fogo cruzado de argumentos que visavam unicamente discutir a discussão. E já não estou a contabilizar os sorrisos cínicos, as expressões de desprezo, os olhares, cúmplices na reprovação.
Numa reunião em que Rui Rio tanto falou, e bem, da pouca produtividade do país, não deixa de ser curioso que seja ele um dos maiores impulsionadores dos desvios do serão. É o maior; está longe de ser o único.
Deixo um exemplo à consideração da navegação:
Pedro Bacelar, do PS, pede a palavra na sequência de um desaguisado entre Rui Rio e o presidente da Junta de Aldoar, Victor Arcos, a propósito dos acessos ao Centro de Saúde daquela freguesia. O socialista diz que não é adequado nem digno brincar com coisas sérias. Sublinha que já não vivemos sob o regime salazarista ou no período estalinista-leninista. Pede basicamente contenção nas reacções do autarca. Mas o autarca, seguro de que o seu público lhe achará piada, responde: "Não entendi nada do que você disse, mas que você fala muito bem, lá isso é uma grande verdade".

quinta-feira, maio 11, 2006

Paredes de Coura, 14º round


Paredes de Coura é o único festival que a partir de determinada altura passa a fazer parte da família: pelo cartaz, pelos promotores, pelo ambiente, pelo cenário, pelo imenso e indizível resto. É sempre bom, mesmo quando chove. E já houve alguns anos em que não parou de chover. É sempre bom, mas quando chove o João Carvalho fica triste e não conseguimos não ficar tristes com ele. É sempre bom, mesmo quando algumas bandas são repetidas. Quem não gostaria de ver os Flaming Lips outra vez? Os Arcade Fire?
Para já, para a 14ª edição, (14 a 17 de Agosto) estão confirmados os Yeah Yeah Yeahs, os Bauhaus, para quem não os conseguiu ver no Coliseu do Porto, o duo norte-americano Fisherspooner, os repetentes !!! (chk,chk,chk), Shout Out Louds, os estreantes White Rose Movement e o fantástico Morrissey, em versão pacificada.

quarta-feira, maio 10, 2006

Vespa 50S


Procura-se Vespa 50S cc., preferencialmente dos anos 60 e com logótipo rectângular. Aceita-se até 1972. Restaurada ou não. Urgente.

Scolari vs Quaresma

Alguém pode dizer-me o que é que o senhor Scolari tem contra os jogadores do Porto? E por que raio continua a haver quem o queira na Selecção?

domingo, maio 07, 2006

Pele

(Fernando Vendrell na 3ª edição do Indie, em Lisboa)

Uma história demasiado boa para um filme razoavelmente deficiente. "Pele", adaptação da obra de Henrique Galvão, com argumento de Carla Batista e realização de Fernando Vendrell, decorre na Lisboa de pé já colocado na revolução. A Lisboa da classe alta, em 1972.
Há uma família e dentro da família, Olga, a herdeira mestiça (Daniela Costa), fruto único de uma relação pontual do pai (Filipe Ferrer) que regressa de África, doente, ao fim de 20 anos. Olga foi amada, mimada e criada pela madastra (Fernanda Lapa), que encarna na perfeição a mulher alada, submissa, que tudo compreende e tudo tolera. Mas a condição social, privilegiada, não impede a crise de identidade sentida pela rapariga, finalista de Biologia. "Não sei onde é o meu lugar, mas sei que não é aqui", diz.
A cor da pele, que serve de argumento para a primeira recusa do sexo oposto e sobretudo para que não seja aceite como assistente na universidade, parece ser o motor central do filme que ilustra um país ainda fechado, conservador, onde tudo de faz, mas sempre por baixo dos lençóis. Olga acaba por enveredar pela vida artística e por entregar-se ao motorista (mérito de Vendrell que não explora o sexo). Acaba por encontrar-se ou por perder-se? Aos olhos de quem? O filme perde-se. Falta-lhe contexto político e contexto sociológico. Falta-lhe rigor nas interpretações quase todas - excepção notável de Ferrer e Lapa, e rigor na linguagem utilizada. Falta-lhe ainda a densidade dos laços afectivos que unem os personagens.

"Pele" poderia ser um belíssimo retrato do país nos anos 70. Mas não é. E é pena. Porque o país no limbo da revolução é um manancial interminável e apetecível.

sábado, maio 06, 2006

Baby Dee


Não é todos os dias que se assiste a um concerto como o da singularíssima norte-americana Baby Dee, artista deslumbrada com o facto de lhe terem oferecido uma senha de almoço. Homem transformado em mulher de cachos de caracóis ruivos; mulher de preto e pantufas rosa a transformar a tristeza em ironia. Ao piano, diante da arpa, com o acordeão nos braços e a voz a espetar o coração - o nosso. E as gargalhadas alucinadas, repetidas a dizerem como ela disse: "Não se assustem, está tudo bem, faz tudo parte do show". Foi ontem, numa Casa das Artes, em Famalicão, transformada em cabaret. E foi único.

sexta-feira, maio 05, 2006

Saudades

Tenho saudades de brincar com o cubo mágico e com a mão louca que saía nos pacotes de batatas fritas há muitos anos. Saudades das noites inteiras a jogar Monopólio na varanda e do barulho que faziam os jogos a entrar no Spectrum depois da introdução do inesquecível código "Load aspas aspas". Saudades das sextas-feiras à tarde sem aulas e da desejada lição número 100, que costumava chegar a cada disciplina mais ou menos por esta altura, anunciando o fim do ano lectivo, merecendo maravilhosas celebrações no rio. Saudades do vestido cor de laranja e do passeio diário, sempre depois de jantar; sempre antes de começar a estudar. Saudades de faltar às aulas para estourar dinheiro no Tetris e saudades das conversas intermináveis ao fundo do portão de casa. Tenho saudades do primeiro beijo. E da primeira vez que exagerei na bebida. Saudades de escrever cartas à mão e receber cartas com selos verdadeiros. Saudades do tempo em que havia tempo para tudo. Saudades da tácita disciplina familiar. E saudades do discurso quando chegava atrasada. Saudades das pedrinhas atiradas contra a janela do quarto a horas proibidas. Saudades dos tempos em que tudo o que desejava ser parecia ainda possível. Tenho saudades de acordar em casa.

quinta-feira, maio 04, 2006

Debate da nação



Como é que alguém tem coragem para mandar calar Ana Drago?

SMS

Sobraram 373 mensagens de telemóvel. Entre Agosto de 2000 e Maio de 2002 trocámos seguramente mais. Ainda mais. Porto-Lisboa todos os dias, várias vezes ao dia. Sobraram estas, as que me recusava apagar. Encontrei-as, intactas, em guardanapos e lenços de papel, em bilhetes de comboio e autocarro, em blocos de apontamentos. Organizei-as cronologicamente. A história está toda lá.