domingo, maio 07, 2006

Pele

(Fernando Vendrell na 3ª edição do Indie, em Lisboa)

Uma história demasiado boa para um filme razoavelmente deficiente. "Pele", adaptação da obra de Henrique Galvão, com argumento de Carla Batista e realização de Fernando Vendrell, decorre na Lisboa de pé já colocado na revolução. A Lisboa da classe alta, em 1972.
Há uma família e dentro da família, Olga, a herdeira mestiça (Daniela Costa), fruto único de uma relação pontual do pai (Filipe Ferrer) que regressa de África, doente, ao fim de 20 anos. Olga foi amada, mimada e criada pela madastra (Fernanda Lapa), que encarna na perfeição a mulher alada, submissa, que tudo compreende e tudo tolera. Mas a condição social, privilegiada, não impede a crise de identidade sentida pela rapariga, finalista de Biologia. "Não sei onde é o meu lugar, mas sei que não é aqui", diz.
A cor da pele, que serve de argumento para a primeira recusa do sexo oposto e sobretudo para que não seja aceite como assistente na universidade, parece ser o motor central do filme que ilustra um país ainda fechado, conservador, onde tudo de faz, mas sempre por baixo dos lençóis. Olga acaba por enveredar pela vida artística e por entregar-se ao motorista (mérito de Vendrell que não explora o sexo). Acaba por encontrar-se ou por perder-se? Aos olhos de quem? O filme perde-se. Falta-lhe contexto político e contexto sociológico. Falta-lhe rigor nas interpretações quase todas - excepção notável de Ferrer e Lapa, e rigor na linguagem utilizada. Falta-lhe ainda a densidade dos laços afectivos que unem os personagens.

"Pele" poderia ser um belíssimo retrato do país nos anos 70. Mas não é. E é pena. Porque o país no limbo da revolução é um manancial interminável e apetecível.

1 comentário:

  1. p contexto político e sociológico nasce da consciência politica e social do individuo enquanto ser individual e colectivo, confesso que tenho tido dificuldade em desenvolver tal consciência, pois, poucos são aqueles que t~em sequer interesse por tais assuntos entre e per si!

    até breve!

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