Uma história demasiado boa para um filme razoavelmente deficiente. "Pele", adaptação da obra de Henrique Galvão, com argumento de Carla Batista e realização de Fernando Vendrell, decorre na Lisboa de pé já colocado na revolução. A Lisboa da classe alta, em 1972.
Há uma família e dentro da família, Olga, a herdeira mestiça (Daniela Costa), fruto único de uma relação pontual do pai (Filipe Ferrer) que regressa de África, doente, ao fim de 20 anos. Olga foi amada, mimada e criada pela madastra (Fernanda Lapa), que encarna na perfeição a mulher alada, submissa, que tudo compreende e tudo tolera. Mas a condição social, privilegiada, não impede a crise de identidade sentida pela rapariga, finalista de Biologia. "Não sei onde é o meu lugar, mas sei que não é aqui", diz.
A cor da pele, que serve de argumento para a primeira recusa do sexo oposto e sobretudo para que não seja aceite como assistente na universidade, parece ser o motor central do filme que ilustra um país ainda fechado, conservador, onde tudo de faz, mas sempre por baixo dos lençóis. Olga acaba por enveredar pela vida artística e por entregar-se ao motorista (mérito de Vendrell que não explora o sexo). Acaba por encontrar-se ou por perder-se? Aos olhos de quem? O filme perde-se. Falta-lhe contexto político e contexto sociológico. Falta-lhe rigor nas interpretações quase todas - excepção notável de Ferrer e Lapa, e rigor na linguagem utilizada. Falta-lhe ainda a densidade dos laços afectivos que unem os personagens.
"Pele" poderia ser um belíssimo retrato do país nos anos 70. Mas não é. E é pena. Porque o país no limbo da revolução é um manancial interminável e apetecível.
p contexto político e sociológico nasce da consciência politica e social do individuo enquanto ser individual e colectivo, confesso que tenho tido dificuldade em desenvolver tal consciência, pois, poucos são aqueles que t~em sequer interesse por tais assuntos entre e per si!
ResponderEliminaraté breve!