Tenho saudades de brincar com o cubo mágico e com a mão louca que saía nos pacotes de batatas fritas há muitos anos. Saudades das noites inteiras a jogar Monopólio na varanda e do barulho que faziam os jogos a entrar no Spectrum depois da introdução do inesquecível código "Load aspas aspas". Saudades das sextas-feiras à tarde sem aulas e da desejada lição número 100, que costumava chegar a cada disciplina mais ou menos por esta altura, anunciando o fim do ano lectivo, merecendo maravilhosas celebrações no rio. Saudades do vestido cor de laranja e do passeio diário, sempre depois de jantar; sempre antes de começar a estudar. Saudades de faltar às aulas para estourar dinheiro no Tetris e saudades das conversas intermináveis ao fundo do portão de casa. Tenho saudades do primeiro beijo. E da primeira vez que exagerei na bebida. Saudades de escrever cartas à mão e receber cartas com selos verdadeiros. Saudades do tempo em que havia tempo para tudo. Saudades da tácita disciplina familiar. E saudades do discurso quando chegava atrasada. Saudades das pedrinhas atiradas contra a janela do quarto a horas proibidas. Saudades dos tempos em que tudo o que desejava ser parecia ainda possível. Tenho saudades de acordar em casa.
sexta-feira, maio 05, 2006
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Pois...
ResponderEliminarEu também, mas, se isso não pertencesse já ao passado, não teria agora "isto" que vai ainda passar por "isso" :)
AM
Gostei muito.Parabéns. Gosto de a ver transcender o dia-a dia.
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