segunda-feira, março 31, 2014
domingo, março 30, 2014
It won’t be easy to believe the day we wake inside a secret place
You were simpler,
you were lighter when we thought like little kids.
Like a weightless, hate-less animal,
beautifully oblivious before you were hid inside a stranger you grew into,
as you learned to disconnect.
Now he hangs your mirrors separately,
so one can’t show you what the other reflects.
When he heard I was on his tail, he emptied your account and hid a part of you that’s so invaluable
(the part of you unsellable at any amount).
He left the tallest peak of your paradise
buried in the bottom of a canyon in hell,
but I swear I’ll find your light in the middle,
where there’s so little late at night, down in the pit of the well.
Then when heaven has a line around the corner,
we shouldn’t have to wait around and hope to get in
if we can carpenter a home in our heart right now
and carve a palace from within.
We won’t need to take a ton of pictures,
It won’t be easy to believe
the day we wake inside a secret place that everyone can see.
sábado, março 29, 2014
No one gives us any time anymore
I didn't want to be the one to forget
I thought of everything I'd never regret
A little time with you is all that I get
That's all we need
Because it's all we can take
One thing I never see the same way around
I don't believe it and it slips on the ground
I wanna take you to that place in the "Roche"
But no one gives us any time anymore
You used me once, you fled, looking, it was dark
You made an offer for it, then you ran off
I got this picture of us kids in my head
And all I hear is the last thing that you said
"I listened to your problems
Now listen to mine"
I didn't want to anymore
And we will never be alone again
'Cause it doesn't happen every day
Kinda counted on you being a friend
Can I give it up or give it away
Now I thought about what I wanna say
But I never really know where to go
So I chained myself to a friend
'Cause I know it unlocks like a door
Some more again
It didn't matter what they wanted to see
He thought he saw someone that looked just like me
The summer memory that just never dies
We worked too long and hard
To give it no time
He sees right through me, it's so easy with lies
Cracks in the road that I would try and disguise
He runs the scissors at the seam in the wall
He cannot break it down or else he would fall
One thousand lonely stars hiding in the cold
Take it, I don't wanna sing anymore
I don't understand, don't get upset
I'm not with you
We're swimming around
It's all I do, when I'm with you
quarta-feira, março 26, 2014
terça-feira, março 25, 2014
I've grown tired of tryin' to change for you
Seasons change, and I tried hard just to soften you
The seasons change, but I've grown tired of tryin' to change for you
Because I've been waiting on you
I've been waiting on you
Because I've been waiting on you
I've been waiting on you
As it breaks, the summer will wake
But the winter washed whats left of the taste
As it breaks, the summer will warm
But the winter craved whats lost
Crave whats all...Gone Away
People change, even though some people never do
You know when people change
They gain a piece but they lose one too
Because I’ve been hanging on you
I’ve been waiting on you
Because I've been waiting on you
I've been hanging on you
segunda-feira, março 24, 2014
Sócrates na fogueira
Sócrates é como a moda das maratonas, diz-se a palavra e aparecem logo milhares a precisar de descarregar a adrenalina. Parece que foi assim ontem à noite na RTP, um rol de gente a passar a palavra, a engordar audiências, a anunciar que o homem (O político? O comentador? O arguido?) estava na televisão a ser confrontado com as suas contradições, o povo a sentir-se vingado como nos tempos em que o pecador era queimado em fogueira pública. O circo foi tão grande que Sócrates perdeu o protagonismo. Não foi ele o assunto ali, foi José Rodrigues dos Santos, que para ser coerente deveria ter fechado o bloco dizendo: "Boa noite, este foi o grau zero do jornalismo".
José Rodrigues dos Santos não é só jornalista, é também professor de jornalismo. Por isso, pouco importa se Sócrates resistiu ou mentiu, se driblou o passado ou se fez o pino - importa que o jornalismo saiu dali de rastos. Sobre a fogueira, só restou a das vaidades. Porque se tudo o resto não bastasse, ainda havia um livro de José Rodrigues dos Santos em cima da mesa, supõe-se que oferecido a Sócrates. É só um detalhe, mas é aí que vive o carácter das pessoas.
sábado, março 22, 2014
sexta-feira, março 21, 2014
quinta-feira, março 20, 2014
"Ficamos com a ideia"
[Andy Warhol, The kiss, 1963]
"O amor é uma coisa bastante embaraçosa. Pelo menos da forma como eu o entendo: como algo de absoluto. As coisas que aprendemos na vida podiam levar-nos a relativizar o amor. Isso se eu tivesse algum bom senso na cabeça. Não é o caso. Há uma teimosia em entender o amor como coisa absoluta. Sendo absoluta, não é possível. Ficamos com a ideia. A morte é silenciosa. Não tenho nada a dizer sobre a morte."
João César Monteiro
SIC não renova contrato com Mário Crespo
Aqui está uma notícia que lamento. Sem prejuízo de o Mário Crespo ter-me irritado muitas vezes, era viciada naquele bloco e ninguém o faz como ele. É muito curioso dizerem que pediu a reforma ao mesmo tempo que a SIC decidiu não renovar o contrato. Se tivesse de facto pedido a reforma, por que teria a Sic de dar esta explicação?! Sem massa crítica e sem memória, eis o jornalismo a continuar alegremente a galopar para o abismo.
quarta-feira, março 19, 2014
La grande bellezza by Paolo Sorrentino *****
"A vida é um truque"
"Viajar é útil, exercita a imaginação. O resto é desilusão e fadiga. A viagem é inteiramente imaginária. Eis a sua força. Vai da vida para a morte. Pessoas, animais, cidades, coisas, é tudo inventado. É um romance, apenas uma história fictícia. Disse Littre, e ele não erra. Porém, qualquer um pode fazer o mesmo. Basta fechar os olhos. E estará do outro lado da vida".
Viagem ao fundo da noite, Celine
Para memória futura
Guardemos esta frase para memória futura, ou com provável azar, para memória a médio prazo: "Não há nenhuma indicação de que haja um banco que necessite de recapitalização. Se existir, o Governo cá estará para assumir as suas responsabilidades"
(Pedro Passos Coelho, hoje, no debate quinzenal)
terça-feira, março 18, 2014
Sokolov até chorar
Nem tudo é mau na Rússia. E não são só os escritores, que são os melhores do mundo. Toda a gente devia assistir a um concerto de Sokolov pelo menos uma vez na vida. Mesmo! Hoje, aquele que muitos consideram o Dostoievsky do piano, que faz com o piano "coisas que não são humanamente possíveis", o pianista da maratona de encores que não gravou mais de meia dúzia de discos, o fanático do oculto, o que só dorme quatro horas por noite e não come carne, o que raras vezes dá entrevistas mas jura conseguir detectar do palco quantas cadeiras há vazias na sala, o maior pianista vivo voltou à casa da Música - com Chopin (Sonata nº2 e Mazurkas) e para gravação. Três horas de arrepiar, de uma sensação estranha de estar fora do corpo e protegidos do mundo. Um privilégio impossível de explicar.
segunda-feira, março 17, 2014
domingo, março 16, 2014
sábado, março 15, 2014
Manifesto dos 70 tem "muito mais bom senso" do que Governo
Depois do texto grosseiro que o jovem José Gomes Ferreira publicou esta semana no site da SIC notícias, eis a resposta do velho Pacheco Pereira, hoje, no Público.
sexta-feira, março 14, 2014
terça-feira, março 11, 2014
segunda-feira, março 10, 2014
All is lost by J.C. Chandor ****
Robert Redford diz três frases durante quase duas horas e, em silêncio, exibe o seu melhor papel de sempre. Redford é um filme inteiro em All is Lost, como atesta este maravilhoso texto do Huffington Post.
I am not a sailor. On my first sailing expedition, the captain abandoned ship and I was saved by the Coast Guard. Nevertheless, I was eager to see J.C. Chandor's new film about a solo sailor facing his mortality -- All Is Lost, starring Robert Redford. I was not disappointed. Given Redford's age, 77, and the physical challenges of portraying a man caught in a storm at sea, he is to be admired just for taking on the role. In fact, he has never given a more exacting and profound performance.
I am not a sailor. On my first sailing expedition, the captain abandoned ship and I was saved by the Coast Guard. Nevertheless, I was eager to see J.C. Chandor's new film about a solo sailor facing his mortality -- All Is Lost, starring Robert Redford. I was not disappointed. Given Redford's age, 77, and the physical challenges of portraying a man caught in a storm at sea, he is to be admired just for taking on the role. In fact, he has never given a more exacting and profound performance.
But the film is not just an adventure story, not just "man against nature." It is the story of Everyman, every human being who comes to the end of life and is moved to reflect upon what that life has meant. The protagonist and only character is not named. He is a man of good sense, physical strength, and great resourcefulness. He does not talk -- he considers, he decides, he acts, fully present to the moment. We see him patching the hole in his boat, righting his overturned life raft, learning how to navigate by sexton and sun.
But like us, The Man is vulnerable to forces beyond his understanding and control. He endures injury, thirst, and bone-numbing fatigue. His raft bobs about helplessly, a veritable dot on an endless sea. Radically alone, he moves inexorably toward his fate. But he refuses to give up. Therein lies his heroic nature, and the tragic sensibility of the film.
The Man does everything right. He repairs the hole in his damaged craft, he climbs the mast to restore power to his radio, he even figures out how to desalinate seawater. He sends up flares to attract passing cargo ships, yelling out in despair, "I'm here! I'm here." It is the plaintive cry of each human being to the universe, "I exist!" However, as poet Stephen Crane so tautly put it, "The fact has not created in me a sense of obligation." The ships move by, ignoring The Man. The great Mystery is silent.
When the end seems inescapable, The Man stops his anxious striving. He writes a letter of regret and apology: "I'm sorry. I know that means little at this point, but I am. I tried. I think you would all agree that I tried. To be true, to be strong, to be kind, to love, to be right. But I wasn't." To the director's credit, he gives no back story. We do not know The Man's specific failures and regrets -- his letter is directed to no spouse or child or friend.
He seems to be a decent man of strong character, a trustworthy man. But like all of us, he has his blunders and betrayals. We do know that he wishes he had been more faithful to these unnamed others, and he wants them to know that he has done his best. He closes his letter, "I fought to the end. I'm not sure what that's worth. But I know that I did." In a gesture of futility, he seals the letter in a jar and drops the jar into the vast and indifferent sea. He understands that the chances of anyone's finding this letter are nil, but he must try to say goodbye and to explain his life and his choices to those he loves.
Having run out of options, The Man can no longer deny his mortality. The task of each of us is to cope with this dilemma. Who is the "I" that demands an answer? Perhaps we are simply like a single wave on the ocean, rising for the moment, only to disappear in the larger consciousness of Being itself.
"All Is Lost" is reminiscent of other "man against nature" classics. It has something in common with the determinism of Jack London in his short story, "To Light a Fire." In this story the protagonist is in a snowy setting far North, trying to light a fire so he won't freeze to death. Like The Man in our film, he is alone, is resourceful, he does everything right -- except using his last match to light a fire under the snow-filled branches of a tree. The snow melts of course and puts out his fire. The story ends. London offers no redemption or hope. The protagonist is Everyman, doomed by fate, an insect crushed by the careless boot of an indifferent God.
And of course All Is Lost will often be compared to Hemingway's The Old Man and the Sea.Both show an older man coping courageously with the dangers and the disappointments of the ravaging sea. In Hemingway's book the protagonist is a humble fisherman in a small boat. He goes after the big one and makes the catch with great difficulty, only to have his fish eaten by sharks. Bringing back the fish is not the point, we understand, but rather the heroic nature of the journey, which lends him dignity and honor, a similar theme in All Is Lost. But in his conclusion, Chandor takes one step more, which moves his film from a humanist statement to a profoundly theological one.
The end of the film (attention: spoiler!) will be long discussed, for it is both highly suggestive and yet inconclusive. Again, this choice is the mark of a director who is creating art and not mere entertainment. The end is a kind of dream sequence which conclusively departs from the concrete reality of the rest of the film. As The Man surrenders his life, he is not thrashing about like one who is drowning -- he simply sinks slowly under the waves. Then he sees a light above him and swims eagerly toward it. A hand reaches down from the light, and the screen goes dark. Is The Man literally being saved, as all the audience members are hoping? Or is he having a pathetic last fantasy that he will be rescued? Is he having a near-death experience, which has been described by many as a journey to the Light? Or is he dying, with the Light guiding his way to the ultimate source of Love? You decide.
At the end of life, what do we find has true significance? What we have achieved, whom we have conquered, fades in importance. What gives meaning to our days is precisely Our Man's fervent desire to be true, to be kind, to love. We know -- all of us -- that we have failed to some degree, we have missed the mark. But we want those we leave behind to know that we did our best.
But like us, The Man is vulnerable to forces beyond his understanding and control. He endures injury, thirst, and bone-numbing fatigue. His raft bobs about helplessly, a veritable dot on an endless sea. Radically alone, he moves inexorably toward his fate. But he refuses to give up. Therein lies his heroic nature, and the tragic sensibility of the film.
The Man does everything right. He repairs the hole in his damaged craft, he climbs the mast to restore power to his radio, he even figures out how to desalinate seawater. He sends up flares to attract passing cargo ships, yelling out in despair, "I'm here! I'm here." It is the plaintive cry of each human being to the universe, "I exist!" However, as poet Stephen Crane so tautly put it, "The fact has not created in me a sense of obligation." The ships move by, ignoring The Man. The great Mystery is silent.
When the end seems inescapable, The Man stops his anxious striving. He writes a letter of regret and apology: "I'm sorry. I know that means little at this point, but I am. I tried. I think you would all agree that I tried. To be true, to be strong, to be kind, to love, to be right. But I wasn't." To the director's credit, he gives no back story. We do not know The Man's specific failures and regrets -- his letter is directed to no spouse or child or friend.
He seems to be a decent man of strong character, a trustworthy man. But like all of us, he has his blunders and betrayals. We do know that he wishes he had been more faithful to these unnamed others, and he wants them to know that he has done his best. He closes his letter, "I fought to the end. I'm not sure what that's worth. But I know that I did." In a gesture of futility, he seals the letter in a jar and drops the jar into the vast and indifferent sea. He understands that the chances of anyone's finding this letter are nil, but he must try to say goodbye and to explain his life and his choices to those he loves.
Having run out of options, The Man can no longer deny his mortality. The task of each of us is to cope with this dilemma. Who is the "I" that demands an answer? Perhaps we are simply like a single wave on the ocean, rising for the moment, only to disappear in the larger consciousness of Being itself.
"All Is Lost" is reminiscent of other "man against nature" classics. It has something in common with the determinism of Jack London in his short story, "To Light a Fire." In this story the protagonist is in a snowy setting far North, trying to light a fire so he won't freeze to death. Like The Man in our film, he is alone, is resourceful, he does everything right -- except using his last match to light a fire under the snow-filled branches of a tree. The snow melts of course and puts out his fire. The story ends. London offers no redemption or hope. The protagonist is Everyman, doomed by fate, an insect crushed by the careless boot of an indifferent God.
And of course All Is Lost will often be compared to Hemingway's The Old Man and the Sea.Both show an older man coping courageously with the dangers and the disappointments of the ravaging sea. In Hemingway's book the protagonist is a humble fisherman in a small boat. He goes after the big one and makes the catch with great difficulty, only to have his fish eaten by sharks. Bringing back the fish is not the point, we understand, but rather the heroic nature of the journey, which lends him dignity and honor, a similar theme in All Is Lost. But in his conclusion, Chandor takes one step more, which moves his film from a humanist statement to a profoundly theological one.
The end of the film (attention: spoiler!) will be long discussed, for it is both highly suggestive and yet inconclusive. Again, this choice is the mark of a director who is creating art and not mere entertainment. The end is a kind of dream sequence which conclusively departs from the concrete reality of the rest of the film. As The Man surrenders his life, he is not thrashing about like one who is drowning -- he simply sinks slowly under the waves. Then he sees a light above him and swims eagerly toward it. A hand reaches down from the light, and the screen goes dark. Is The Man literally being saved, as all the audience members are hoping? Or is he having a pathetic last fantasy that he will be rescued? Is he having a near-death experience, which has been described by many as a journey to the Light? Or is he dying, with the Light guiding his way to the ultimate source of Love? You decide.
At the end of life, what do we find has true significance? What we have achieved, whom we have conquered, fades in importance. What gives meaning to our days is precisely Our Man's fervent desire to be true, to be kind, to love. We know -- all of us -- that we have failed to some degree, we have missed the mark. But we want those we leave behind to know that we did our best.
domingo, março 09, 2014
sábado, março 08, 2014
Alan Bennett: A leitora real
"O apelo da leitura, pensou, vinha da sua indiferença: havia na leitura algo de nobre. Os livros não se importavam com quem os lia, nem se os líamos ou não. Todos os leitores eram iguais, incluindo ela própria. Pensou: a literatura é uma comunidade; as letras uma república.
Se lhe perguntassem se a leitura lhe enriquecera a vida; ela teria de dizer que sim, sem dúvida, embora acrescentasse com igual certeza que, ao mesmo tempo, lha esvaziara de todo o sentido. Fora outrora uma mulher resoluta e segura, conhecedora do seu dever e decidida a cumpri-lo enquanto pudesse. Agora, ficava muitas vezes indecisa. Ler não era fazer, o problema fora sempre esse. E, embora velha, continuava a ser uma pessoa de acção.
Voltou a acender a luz, pegou no caderno e escreveu: "Nos livros não pomos a vida, encontramo-la."
A seguir adormeceu.
Os livros tornam-nos menos rijos, amaciam-nos (...) Os livros raramente induzem o despoletar da acção. Geralmente só nos confirmam aquilo que , talvez inconscientemente, já decidimos fazer. Vamos a livro para ver corroboradas as nossas crenças. O livro, por assim dizer, encerra a questão".
[A propósito deste conto de Bennet, escreveu Maria José Nogueira Pinto, um ano antes de morrer, no DN: O leitor não erudito, como é o meu caso e o da Rainha, é decerto o mais feliz. Menos crítico e menos selectivo, ele é também menos autodirigido, mais versátil e sempre disposto a abraçar o caos. A nossa viagem torna-se caleidoscópica e sem fim à vista. (...) A leitura é mesmo assim: subversiva e redentora. Só é preciso ler." É isto.]
sexta-feira, março 07, 2014
Passos Coelho antecipa-se a Deus
Aprender a estar calado é dom que Durão Barroso não tem. Em 2003 anunciou que o país estava de tanga, prometendo que tudo faria para colocar as contas do país em ordem e que nada o demoveria dessa missão. Uma ou duas semanas depois dessa promessa, foi embora (não tinha sequer cumprido metade da legislatura!) e deixou-nos Santana que tornou inevitável Sócrates. Hoje veio dizer que fez "tudo por Portugal". Durão foi o pior primeiro-ministro português, o que teve mais lata e o que tem menos vergonha. Como presidente da Comissão Europeia, não acertou uma, como há-de mostrar o balanço dos dez anos que, espero, alguém escreverá. Por mim, dispenso as ajudas e sobretudo o regresso. Por mim, bem pode ir para o raio que o parta!
Mas como o raio que o parta é capaz de ser muito longe, quando afirmou, também hoje, que o seu futuro pós presidência da Comissão Europeia "pertence a Deus", veio logo Passos Coelho dizer o quão "útil" será manter a sua "sabedoria" em qualquer organismo europeu. Não há pachorra!
Fernanda Câncio: carta a um pontapé
Escrevo quatro dias depois de te ter visto. É com perplexidade que reconheço que poderia nunca ter sabido de ti, já que os canais de TV que habitualmente sigo te ignoraram, e os jornais que leio, a começar por este em que trabalho, só te noticiaram porque houve um canal de cabo que te mostrou. Não fosse esse canal, que tenho por exemplo do que o jornalismo não deve ser, terias ficado clandestino, graças ao que, levaram estes dias a explicar-me, seria um nobre acordo de cavalheiros entre quem te desferiu, o vai para 40 anos assessor de imprensa do PSD José Mendonça (Zeca para todos) e quem levou contigo, o meu colega Paulo Spranger - porque o Zeca pediu desculpa ao Paulo, que aceitou as desculpas. E pronto, dizem-me: é circular, faz favor, não há mais nada para dizer.
Mas olho para ti e não vejo nada de cavalheiro, nem de nobre, nem de senhor. Ou por outra, vejo um senhor pontapé. Gratuito, deliberado, discreto, profissional - um pontapé de quem sabe dá-los. É o que se vê no corredor do hotel onde decorreu no domingo o Conselho Nacional do PSD: o Zeca, acompanhando Relvas, afasta-se dele e caminha, calmo e ligeiro, para Spranger, que está a fotografar Relvas. Pespega-lhe um pontapé e a seguir segura-o (para que não caia?). É o pontapé de um assessor de imprensa, no desempenho das suas funções, a um jornalista a tentar desempenhar as suas. É o pontapé do funcionário de um partido, o principal partido do Governo, a agredir fisicamente alguém ao serviço de um jornal - portanto, o jornal. É o pontapé de um membro do Conselho de Opinião da RTP - porque Zeca Mendonça é-o - a fazer algo que, além de constituir uma ofensa à integridade física, pode ser configurado como "atentado à liberdade de informação", punido com prisão até dois anos caso "o infrator for agente ou funcionário do Estado ou de pessoa coletiva pública e agir nessa qualidade."
É muito para ver num pontapé? Vindo de quem, na minha experiência profissional, sempre foi, além de eficiente, simpático? É. Diz Zeca que se descontrolou. Pois não vejo ali, em ti, pontapé, descontrolo nenhum. Pelo contrário: vejo um controladíssimo pontapé, a controlar.
"Um pontapé não define uma pessoa", garante, em procissão de elogios no Facebook do Zeca, um ror de gente, muita dela habitualmente inflamada contra "tentativas de controlo" e "asfixias democráticas". Em estando uma pessoa em causa, poder-se-ia discutir isso (aliás, resumir o caso a uma escolha entre linchar e perdoar Mendonça define bem aquilo a que chegou a nossa vida pública). Mas não está. Está um funcionário do PSD a zelar pela imagem do partido. Está a imagem do partido. E se o silêncio do PSD sobre o ocorrido mostra quão bem lhe vai este pontapé ao parecer (uma semana depois do discurso da pancada, até rima), o do jornalismo mostra que merece. Até à próxima, pois, pontapé.
[Hoje, no DN]
Novo jornalismo?
[Foto: Nuno Botelho]
Houve directos nas televisões a engolir a programação, houve acompanhamento ao minuto em alguns sites, muitos vídeos e fotografias (não fosse aparecer alguém a querer outra vez beijar um polícia... e parece que apareceu mesmo), histeria colectiva. À falta de pão, o circo. Hoje não houve jornal que não tivesse dedicado duas páginas ao assunto.
Se alguém tiver visto ou lido em algum lado quanto custa uma farda de polícia ou a parafernália que usam e que também dizem ter de pagar, se alguém tiver visto ou lido em algum lado que outros funcionários do Estado têm também de pagar as suas tralhas, se alguém tiver visto ou lido em algum lado por que razão os cortes dos polícias são injustos e os do sector privado e da função pública são aparentemente justos, agradeço que me informem. Porque eu infelizmente não vi nem li. Não estou contra a manifestação, só contra um jornalismo viciado em mostrar muito e explicar pouco.
terça-feira, março 04, 2014
Os privilegiados
Há uns dias, esta fotografia chocou o país, coisa que francamente não consegui entender se não à luz da hipocrisia reinante. Lê-se, de uma só penada, o livro de Gustavo Sampaio, "Os privilegiados" (que devia ser de leitura obrigatória nas escolas), um trabalho inacreditável de desmantelamento do verniz dos governantes portugueses (com nomes, números, trocas, empresas, cruzamentos, enriquecimentos, tudo!) e rapidamente se percebe que nós não somos mais do que uma multidão de negros pobres armados em brancos ricos a olhar impotentes para os políticos que exibem, indiferentes e sem pudor, as suas vestes caras ao centro. A única diferença é que a Rita Pereira é muito mais bonita do que qualquer um deles.
segunda-feira, março 03, 2014
Oscars 2014
Melhor Filme: 12 Anos Escravo
(feliz por ter perdido o lobo)
Melhor Realizador: Alfonso Cuarón, Gravidade
Melhor Ator: Matthew McConaughey, O Clube de Dallas
Melhor Ator Secundário: Jared Leto, O Clube de Dallas
(teria ganho, se tivesse apostado, nas duas categorias para actores, sobretudo contra todos os que apostavam na estreia de Dicaprio ou de Chiwetel Ejiofor)
Melhor Atriz: Cate Blanchett, Blue Jasmine
(errado, deveria ter sido para Meryl Streep em August Osage County)
Melhor Atriz Secundária: Lupita Nyong'o, "12 Anos Escravo"
(certíssimo, teria ficado fula se tivesse ganho a Jennifer Lawrence)
Melhor Argumento Original: "Her - Uma História de Amor", Spike Jonze
(hmmm... original, original...)
Melhor Argumento Adaptado: "12 Anos Escravo", John Ridley
Melhor Filme Estrangeiro: A Grande Beleza, de Paolo Sorrentino (Itália)
(Ainda não vi, mas o Sorrentino é sempre tãaaao bom...)
Melhor Filme de Animação: "Frozen - O Reino do Gelo"
Melhor Curta-metragem de Animação: "Mr. Hublot", de Laurent Witz e Alexandre Espigares
Melhor Curta-Metragem: "Helium", de Anders Walter e Kim Magnusson
Melhor Documentário: "A Dois Passos do Estrelato", de Morgan Neville
Melhor Documentário de Curta-metragem: The Lady in Number 6: Music Saved my Life, de Malcolm Clarke e Nicholas Reed
Melhor Banda Sonora Original: Gravidade, de Steven Price
Melhor canção original: Let It Go, de Kristen Anderson-Lopez and Robert Lopez, no filme Frozen
Melhor Design de Produção: O Grande Gatsby, Catherine Martin e Beverley Dunn
Melhor Montagem: Gravidade, Alfonso Cuarón e Mark Sanger
Melhor Montagem de Som: Gravidade, Glenn Freemantle
Melhor Mistura de Som: Gravidade, Skip Lievsay, Niv Adiri, Christopher Benstead e Chris Munro
Melhores Efeitos Visuais: Gravidade", Tim Webber, Chris Lawrence, Dave Shirk e Neil Corbould
Melhor fotografia: Gravidade, Emmanuel Lubezki
Melhor Guarda-Roupa: O Grande Catsby, Catherine Martin
Melhor Maquilhagem e Cabelo: O Clube de Dallas, Adruitha Lee e Robin Mathews
domingo, março 02, 2014
Poussière d’étoiles - “Pó de Estrela”
Absolutamente maravilhoso o trabalho de Olivier Valsecchi
nesta chuva de areia
a que o fotógrafo francês preferiu chamar
Pó de estrela.
sábado, março 01, 2014
Empobrecer
[Investigação de Miguel Carvalho, na Visão desta semana]
Imaginemos que um presidente de Câmara ganha, números redondos, quatro mil euros por mês. Imaginemos que foi presidente de Câmara durante 16 anos. E que nunca gastou dinheiro em nada, nem sequer para comer. Tudo o que ganhou, poupou. Ao fim de 16 anos (cada a ano a 14 meses), teria auferido a módica quantia de 896 mil euros. É pouco e isso é triste, há que reconhecer. Mas estar na política é, como se sabe, empobrecer.
Mas imaginemos que um dia, na loucura, o presidente de Câmara decide comprar uma casa por meio milhão de euros. Ficariam a sobrar-lhe apenas 396 mil euros. Vamos perder a cabeça e imaginar que comprou também uma quinta, talvez em saldo, por 150 mil euros. Vá lá, e mais uns 50 mil euros em carros e motas e uma ou outra bugiganga, tudo a preço de amigo. Restar-lhe-iam apenas 196 mil euros.
Como ninguém vive de oração, vamos humanizar o presidente e suprir-lhe necessidades básicas: comer, vestir, educar filhos, contas de manutenção. Que verba teria o presidente de Câmara para esse essencial? Dividimos 196 mil euros pelos 192 meses que perfazem os 16 anos e chegámos a um valor: mil euros!
Assim se assiste, sem dó nem piedade, ao empobrecimento de um presidente de Câmara, que durante anos, em nome da causa pública, aceita abnegadamente ser mileurista.
Isto seria crível se eu soubesse fazer contas. E não sei. De certeza que me enganei em alguma equação ou que me escapou uma qualquer variável (poupanças, investimentos, heranças, whatever!). Mas se isto fosse mesmo assim, o único consolo que teria seria o de saber que algumas pessoas podem, aos 60 anos, decidir enriquecer. Os jovens com menos de 34 anos, não. Esses saem aos magotes para fora do país. As pessoas com mais de 45 anos que perdem o emprego, também não. Dessas, mais de metade, dizem os estudos, não voltarão ao mercado de trabalho. Mas há pessoas de 60 anos que podem começar do zero e enriquecer. Caramba, que alívio! Quem disse que este país não está melhor?
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