segunda-feira, outubro 24, 2011

O dia em que fizemos as pazes com o André



"Os verdadeiros paraísos são os paraísos que perdemos. A bilheteira das Antas, o barulho dos torniquetes, a arquibancada... todos de pé, confetis azuis e brancos no ar e entra em campo o F. C. Porto... Cor... Cores vivas que cativam e prendem o olhar e sons... de música, de causas, de princípios e de um sentimento. Primeiras e eternas memórias de paixão e amor ao clube, mas não de qualquer clube... Porto, palavra exacta, nunca ilude. O portista vive, subsiste, é eterno; o portista sente, sofre, luta; o portista quer, pede e exige; o portista junta, acumula e ganha; numa simbiose perfeita com a personalidade de cada um o portista é educado, aprende, é formado e torna-se melhor. Como pessoa, como homem e como mulher.

Quando me permiti a reflectir sobre o que nos poderia ter levado ao sucesso da época passada, cheguei à conclusão de que o portismo esteve presente a cada passo e em cada um de nós desde o princípio. Emoção, revolta, desejo, ambição. Sentido comum, conceito de união, empatia e reconhecimento. Não há derrotas quando é firme o passo, ninguém fala em perder, ninguém recua. Ninguém recuava, sonhávamos... acreditávamos sempre mais e depois seguimos convictos. Dúvida? Não...! Mas luz, realidade e sonho que na luta amadurece.

Apoiados no talento e na sabedoria de cada um, avançámos. No dilúvio, na neve, no inferno e na catedral triunfámos. Deram tudo por nós esses atletas, transpirados mas sempre inspirados, criativos e livres, encontraram sempre o caminho certo. E ganhámos... Muito! dirão alguns; pouco! dirão outros; o suficiente e o esperado! dizemos todos nós... porque se há algo que nos orgulha como portistas é querermos sempre mais e por isso ganhamos mais vezes e por isso somos recordistas! Na perseverança de um presidente temos um exemplo de vida. A nossa relação não foi enciclopédica, foi muito mais do que isso. Foi a emoção transmitida pelo gesto e pelo olhar, pela confiança e pela gratidão.

E fora do olhar comum, a estrutura Porto, qual baluarte, unido e formado para a vitória. Liderado exemplarmente, só tem um objectivo: garantir as máximas condições de sucesso para quem aqui trabalha. Sem ela, nada funciona, com ela tudo se mescla, todos se interrelacionam porque sabem que todos dependem de todos. O esforço de um, contagia todos os outros.

É uma honra e um orgulho estar presente entre vocês e receber um prémio desta envergadura. Qualquer prémio atribuído a um indivíduo num desporto colectivo é e sempre será algo ingrato e injusto e por isso mesmo partilho convosco. Assim fomos educados, todos decisivos na obtenção do nosso sucesso, todos decisivos no nosso compromisso com a vitórias.

E azul e branca essa bandeira avança, azul, branca, indomável, imortal. Como não pôr no Porto uma esperança se daqui houve nome Portugal?"

[Discurso de André Villas-Boas,  no dia em que recebeu o Dragão de Ouro para o treinador do ano]

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