domingo, outubro 09, 2011

Absolutamente Rita Blanco


O amor incondicional só pode trazer um final feliz. O meu amor pela minha filha é incondicional. Se alguém chegar e me disser: "Olhe, precisamos de lhe tirar o coração para dar à sua filha agora mesmo. Nem dá tempo para a anestesia." Respondo: "Abra, abra, tire à vontade, sirva-se." O amor incondicional é mesmo incondicional. Aquela mãe prefere perder a filha, e o amor dela, do que permitir que ela saiba que cometeu incesto. Foi a mãe que deu azo que ela pudesse acontecer, e por isso é levada às últimas consequências. O amor incondicional só aparece em situações extremas. Ao guardar o segredo, ela mantém a sanidade mental da filha. Se eu tivesse cometido um erro assim, levava o segredo até ao fim para não magoar mais ninguém. Todos temos segredos para levar até ao fim, para não magoarmos os outros. Não temos?

Todos os homens precisam de mulheres que os guiem. Começa na infância, não é? É muito raro os homens serem mais fortes do que as mulheres. Parecem mais fortes quando são giros e quando são difíceis, porque vão para a guerra e nós adoramos isso. A questão é: será que nós, mulheres, queremos ser felizes? As mulheres podem ser mais facilmente felizes sozinhas, aceitam melhor a solidão.

Eu preciso de confiar imenso nas pessoas e que confiem em mim, deixando-me fazer o que quero. Eu de onde venho volto sempre lá, porque são pessoas que me reconhecem e que reconheço. Se não me deixam pensar no que vou fazer, baralho-me. Interessa-me trabalhar com poucas pessoas. Isto é uma arrogância inacreditável, enfim... é a minha limitação, uma delas. Preciso que haja uma comunhão e que não seja só eu a servir uma pessoa, mas que nos sirvamos uns aos outros. Falam-me em figuras tutelares, eu falo de pessoas com quem sinto cumplicidade, e que também sentirão por mim. Que eu aprendo coisas interessantes? Sim. Que lhes dou algumas coisas? Espero que sim. 

Gosto imenso de pessoas. Quero estar mesmo próxima das pessoas e falar sobre as pessoas. Sabem porque leio? Para ser actriz, viver aquelas vidas todas. Todos os dias me comovo com as pessoas, com a fragilidade, com a solidão... as pessoas estão muito desprotegidas. As pessoas valem muito a pena, eu só sou actriz para falar sobre as pessoas. Sou sempre eu. E não me quero abandonar. Se não perco-me... Eu acredito imenso na satisfação e na possibilidade de ser feliz. Aquela mulher é são, tenta salvar coisas muito complicadas para que as pessoas possam viver as suas vidas. Sou vaidosa e infelizmente ainda não consegui vencer isso, passo a vida a lutar contra o meu ego.

Eu sempre quis construir pessoas, sempre. Quis sempre que as personagens fossem pessoas que pudessem fazer rir ou chorar, que tivessem um lado comovente, que é o que eu vejo nas pessoas de todos os dias, principalmente quando acontecem desastres e as pessoas ficam totalmente baralhadas e "despidas". Eu quero que a realidade fique mais real.

[Das entrevistas ao Ípsilon e ao Expresso, a propósito de "Sangue do meu sangue", de João Canijo]

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