quarta-feira, outubro 12, 2011

Tarjei Vesaas: Noite de Primavera


No mesmo instante, os olhos começaram a arder. Uma dor pungente. Estava quase, agora. Os seus olhos picavam e ardiam cada vez mais - como se pudessem facilmente destruir e consumir tudo onde o seu olhar pousasse. Estava praticamente em cima do tufo e preparava-se para entrar - mas... Não! De súbito, o feitiço quebrou-se e desfez-se. (...) Tudo havia desaparecido. Os botões de flor já não giravam. Nada pulsava ou vibrava. Já nada era delicioso tão-pouco: ele sentia-se fraco e vazio. Reparou depois que estava coberto de suor.
(...)
Ela fazia lembrar uma ave perigosa dentro de uma gaiola segura. Mas não segura o suficiente para evitar que agarrasse quem quer que chegasse demasiado perto. (...) Estou só a pensar sobre uma dor que cresce tanto e tão bruscamente até rebentar. Sentira uma descarga de vida vinda de um lugar completamente novo. (...) Ousaram até segurar a mão um do outro. Mãos firmes e solitárias que subitamente seguram algo estranho e maravilhoso. (...) Aquilo que desejamos muitas vezes torna-se subitamente em algo bastante diferente, podemos sentir que algo se tornou diferente, podemos sentir que algo se tornou diferente ainda antes de realmente nos darmos conta.

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