Ela não queria ter memória. Não queria lembrar-se da primeira que lhe ouviu a voz e do que essa voz lhe fez. Não queria lembrar-se de quantos dias contou para o ver antes sequer de saber se alguma vez chegaria a vê-lo. Não queria lembrar-se desse dia, o dia em que pela primeira vez o viu. E viu que ele existia mesmo. O dia em que a contagem recomeçou. Para o ver outra vez. Outra vez sem saber se esse dia chegaria. Porque mesmo que chegasse, não haveria amanhã para eles. Isso ela sabia. Só não sabia que era a sério o que dizia a brincar, que se tinha apaixonado à primeira audição. Se não tivesse memória, não saberia que agora haverá sempre um antes e um depois daquele dia. Nem se lembraria que começou a tentar esquecê-lo no dia em que o conheceu. E que tantos dias depois, maldita memória, ainda não conseguiu.
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