A viagem é o viajante; não importa onde se chega, importa o que se vê quando e enquanto se caminha. Em "Sempre vivemos no castelo", publicado originalmente em 1962, considerado pela Times um dos dez melhores romances desse ano, não há nada para descobrir, porque tudo se adivinha à primeira página, o autor de um crime colectivo não datado, mas já com algum bolor. Também se adivinha que não nos serão dadas explicações sobre a motivação. Resta, portanto, o putativo prazer de uma deambulação em circuito fechado, no interior de um castelo em que vivem, depois de envenenada uma família inteira, a abastada Blackwood, apenas duas irmãs, Constance e Merricat, e um tio preso a uma cadeira de rodas. Os Blackwood são vítimas e vilões. O que deles havia perdeu-se; o que deles sobrou é hostilizado pela sociedade, uma comunidade em ponto pequeno, em todos os sentidos que atribuir se possa a pequeno.
Aposta-se tudo em Merricat, a menina de18 anos que podia muito bem ter só seis, que vive na lua, que constrói um mundo dentro do mundo, onde ela e Jonas, o gato, podem ser quem quiserem. Um lugar onde não há dor, mas também não há nada. Parecia promissora a personagem; fica aquém. A de Constance, 27 anos, também. Foi ela quem cozinhou naquela noite, logo a acusada de ser ter contaminado o jantar. Há entre as duas um amor inabalável - e um segredo terrível, que mantêm mesmo entre elas. Mas não chega a haver tensão e talvez isso seja o pior do livro, é sempre morno, lento, quase claustrofóbico.
Surpreendente é o facto de a história crescer uns dias depois de ter sido lida. Sobretudo pelo medo do desconhecido que todos ali à sua maneira têm, e pelas estratégias que encontram para o combater. Ou para não o enfrentar. Também pelos julgamentos prévios e fáceis que costumam atacar quem raciocina com a pele. E por aquele aparente laivo de redenção (ou hipocrisia, who knows?) da tal pequena comunidade.
Mesmo assim, Shirley Jackson (1916-1965), uma das escritoras norte-americanas cuja tradução era mais aguardada em Portugal, e cuja obra é considerada magistral, deixa-nos com a sensação de voo demasiado raso.
Merricat, said Connie, would you like a cup of tea?
Oh no, said Merricat, you'll poison me.
Merricat, said Connie, would you like to go to sleep?
Down in the boneyard ten feet deep!
Aposta-se tudo em Merricat, a menina de18 anos que podia muito bem ter só seis, que vive na lua, que constrói um mundo dentro do mundo, onde ela e Jonas, o gato, podem ser quem quiserem. Um lugar onde não há dor, mas também não há nada. Parecia promissora a personagem; fica aquém. A de Constance, 27 anos, também. Foi ela quem cozinhou naquela noite, logo a acusada de ser ter contaminado o jantar. Há entre as duas um amor inabalável - e um segredo terrível, que mantêm mesmo entre elas. Mas não chega a haver tensão e talvez isso seja o pior do livro, é sempre morno, lento, quase claustrofóbico.
Surpreendente é o facto de a história crescer uns dias depois de ter sido lida. Sobretudo pelo medo do desconhecido que todos ali à sua maneira têm, e pelas estratégias que encontram para o combater. Ou para não o enfrentar. Também pelos julgamentos prévios e fáceis que costumam atacar quem raciocina com a pele. E por aquele aparente laivo de redenção (ou hipocrisia, who knows?) da tal pequena comunidade.
Mesmo assim, Shirley Jackson (1916-1965), uma das escritoras norte-americanas cuja tradução era mais aguardada em Portugal, e cuja obra é considerada magistral, deixa-nos com a sensação de voo demasiado raso.
Merricat, said Connie, would you like a cup of tea?
Oh no, said Merricat, you'll poison me.
Merricat, said Connie, would you like to go to sleep?
Down in the boneyard ten feet deep!
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