Agostinho Branquinho é um ginasta notável!!! Na semana passada, na crónica que assina, todas as sextas-feiras, no Jornal de Notícias (www.jn.sapo.pt), usou a rocambolesca analogia dos supermercados para explicar apenas a forma como o indefeso Rui Rio acabou por transformar-se num mártir nas mãos impiedosas dos vis jornalistas. O presidente da Câmara do Porto não fala (a não ser por escrito, naturalmente; e quando assim o entender), mas falam os seus súbditos por si, o que dá sempre muito jeito.
Hoje o cronista volta a repetir a fórmula. Mas com um jogo de cintura digno de figurar no livro de recordes do Guiness, na modalidade "elasticidade intelectual". O deputado da Assembleia Municipal do actual executivo PSD/CDS-PP dá consigo (ele próprio não deve saber como conseguiu!) a desancar nos ex-ministros da Cultura dos anteriores governos sociais-democratas, Pedro Roseta e Maria João Bustorff, por terem negligenciado e atrapalhado a Casa da Música. Dá, fatalmente, consigo a elogiar "a intervenção directa do primeiro-ministro", que, segundo defende, "fez vingar – e bem – o modelo de fundação, numa parceria virtuosa do Estado com a iniciativa privada." Mais: aprova, incondicionalmente, a nomeação do militante socialista, José Manuel Dias da Fonseca, para presidente do Conselho de Administração da futura Fundação.
Pelo caminho, quase acaba por perder-se, não poupando também elogios ao "sentido de Estado e pragmatismo" do engenheiro Couto dos Santos (ainda a presidir o Conselho de Administração da Casa, apesar de o seu contrato ter cessado em Maio), sem o qual, sublinha, "estaríamos, hoje, ainda bem longe de uma solução estável para o funcionamento da Casa da Música."
Sobre essa prodigiosa acção do engenheiro falaremos mais tarde. Importa agora questionar que motor leva Agostinho Branquinho a tecer súbitos louvores ao PS e convictos chumbos ao PSD. Seria a permuta Túnel de Ceuta/Casa da Música, servida à sobremesa de um qualquer restaurante da cidade, a turvar-lhe o raciocínio? Não! À semelhança do que aconteceu na semana passada, a resposta é dada no penúltimo parágrafo da prosa.
Branquinho está, apenas, preocupado com o regresso de Pedro Burmester à Casa da Música. Cito: "O primeiro teste a este ambiente de consensualidade em torno da Casa da Música será a nomeação do director artístico. Aí se verá se a opção será por uma personalidade que não volte a criar um clima de crispação e que permita que o projecto se afirme e recolha, sem reservas, o apoio de diferentes sectores da sociedade."
E sugere, sem o escrever abertamente, o apoio que Jorge Sampaio deu ao pianista na noite de S. João, no Porto, em 2003. "Pela validade e pertinência de Pedro Burmester, perder-se-ia menos com a saída de Rui Amaral" (primeiro presidente do Conselho de Administração da Casa da Música. Sim, o que queria um elevador directo para o gabinete), afirmou, na altura, o presidente da República confrontado a ira de Rui Rio e respectivo séquito.
"Portugal é um país de “cunhas” e nem o presidente da República escapa a esse mal endémico. Oxalá que a “cunha presidencial” não contribua para mais polémicas sobre a Casa da Música.", conclui, depois de muito navegar, Agostinho Branquinho.
Se Pedro Burmester não regressasse (ou não regressar...) ficaríamos todos a perder. Perderia o projecto (que só ele delineou ao pormenor), perderia a cidade e o país. Mas, depois de tudo, depois de todos os insultos e injustiças, depois de todos os impasses e manifestações de falta de coragem do actual Ministério da Cultura, quem é que ainda merece o regresso do pianista? Quem é que verdadeiramente merece que continue a deixar as partituras em segundo plano?
Anthony Withworth-Jones (director artístico britânico nomeado para a Casa, em Fevereiro do ano passado, sem que nunca alguém tivesse percebido porquê), confessou, em entrevista ao Público, anteontem: "Não sei muito bem o que queria que a Casa da Música fosse. Quando cá cheguei, não tinha ideias feitas."
Burmester tinha as ideias todas. As que lá estão, e as que destruíram. Valeu a pena? Ainda vale a pena dar pérolas a porcos?
"Quem é que verdadeiramente merece que [Burmester] continue a deixar as partituras em segundo plano?"
ResponderEliminarSó os poucos que deixam de o ouvir.
"Anthony Withworth-Jones (...), confessou, (...) "Não sei muito bem o que queria que a Casa da Música fosse. Quando cá cheguei, não tinha ideias feitas.""
E contudo foi ele que pôs cá fora a melhor programação que a Casa da Música já exibiu.