sexta-feira, janeiro 29, 2010

Brendan Perry em Portugal

"Durante as décadas de 80 e 90, e temporariamente em 2005, poucos projectos podem gabar-se de terem apaixonado tanta gente tão diferente. Apelando às mais diversas tendências e tribos do espectro musical, dos shoegazers britânicos aos black metallers noruegueses, BRENDAN PERRY e Lisa Gerrard construíram um percurso tão ecléctico e singular quanto se possa imaginar. Do pós-punk gótico dos primeiros discos, os Dead Can Dance abraçaram a world music e criaram discos encantadores, de envolvências obscuras e ambientes melancólicos. A sua música espalhou-se pelo mundo a que iam beber as suas influências e as canções foram parar não só a discos brilhantes como «The Serpent's Egg» ou «Spiritchaser», mas também a séries de televisão e filmes de Hollywood. O percurso iniciado em 1981 terminou em 1998, exceptuando a reunião em 2005.

No entanto, nem os fãs tinham ainda enterrado mentalmente o seminal e influente duo, quando a metade masculina dos Dead Can Dance dava o tiro de partida para a sua carreira a solo. «Eye Of The Hunter» chegou aos escaparates em 1999 e, dois anos depois, o músico introduzia-se no universo das bandas-sonoras. Nada interessado em estagnar, Perry juntou-se ao irmão Robert e, de 2000 a 2005, esteve totalmente envolto no mundo dos workshops de percussão africana e afro-cubana. A “reunião” da sua banda de sempre deu-lhe atento para regressar ao mundo da música mais mainstream e 2010 vai ver o lançamento do há muito aguardado sucessor do já longínquo «Eye Of The Hunter». A novidade «Ark» promete ambientes construídos a partir de teclados e outras texturas sonoras e, segundo a própria voz dos Dead Can Dance, é o mais próximo que já esteve deles. Brendan Perry vai trazer o seu espectáculo a Portugal para dois concertos.

14 de Março, no Santiago Alquimista, em Lisboa
15 de Março, no Theatro Circo, em Braga
Bilhetes: 25 euros

quarta-feira, janeiro 27, 2010

terça-feira, janeiro 26, 2010

CDS decide; PSD vai atrás; Governo respira

O Governo já pode respirar de alívio. À boleia da Direita, o Orçamento de Estado para 2010 tem viabilização assegurada. O CDS-PP, que se voluntariou desde o início para negociar, abster-se-á. O PSD, apesar de mais renitente, também. Só a Esquerda não foi a jogo.

Era menos complicado do que parecia: sabendo-se que as forças partidárias de Direita não queriam ficar com o ónus de provocar o desmoronamento do Governo – até porque não era seguro que, em caso de eleições antecipadas, a intenção de voto dos portugueses fosse diferente do que foi nas legislativas de Setembro –, a única dúvida residia em saber até onde poderia a corda esticar. E quem poderia, concluída a dança de cedências, reclamar vitória.

Paulo Portas colocou-se em campo logo em Dezembro, disponibilizando-se para votar a favor do Orçamento de Estado (OE), caso o Executivo de José Sócrates acolhesse uma lista de 25 medidas que o líder centrista elencara como prioridades para o país. Entre elas, estavam o aumento da fiscalização no Rendimento Social de Inserção e a venda de medicamentos por unidose. Somado, o pacote implicaria um custo de 700 milhões de euros.

Nessa altura, relegado para segundo plano, o PSD, através do seu líder parlamentar, acusou o Governo de “seguir o caminho mais fácil”. “O fundamental é que haja uma inversão da linha trajectória do défice externo e do défice das contas públicas. Essa é uma preocupação que faz com que o PSD olhe para este OE numa lógica de interesse nacional”, explicou José Pedro Aguiar-Branco. Apesar disso, foi o CDS-PP que se manteve como jogador principal até anteontem, até à “abstenção construtiva”. A social-democrata Paula Teixeira da Cruz, em entrevista ao I, reconhece-o: “O CDS está a ser tratado como maior partido da oposição.”

Tanto assim é que, a partir do momento em que Portas anunciou a abstenção, conseguiu três coisas: obrigar o PSD a seguir-lhe as pisadas (se Ferreira Leite se opusesse, como alguns militantes desejavam [ver caixa], não se livraria de ser vista como a responsável por uma crise política); dividir a responsabilidade do futuro por três (PS, CDS e PSD); e ganhar margem para reclamar do Governo o cumprimento da fatia de compromissos que assumiu com os democratas-cristãos. Conseguiu ainda facilitar a vida ao Governo que, da Esquerda, BE e PCP/PEV, na impossibilidade de qualquer entendimento, não poderá esperar senão os seus votos contra.

terça-feira, janeiro 19, 2010

José Queirós é o novo provedor do leitor do Público

É o regresso a casa do guerreiro. José Queirós, 58 anos, fundador do Público, será o próximo provedor do leitor daquele diário. O mandato, com duração de um ano, começa em Março. Depois de Joaquim Vieira, era impossível escolher alguém melhor.

It's time to leave and turn to dust........



O casamento perfeito. Para saberes que gostei. :)

segunda-feira, janeiro 18, 2010

You're a part-time lover and a full-time friend

When i wake up

Um dia, quando me sentar na paragem para outro destino, à espera desse autocarro onde segues e que há-de levar-me também, sentar-me-ei no lugar que reservaste para mim ao teu lado. Vou segurar a tua mão enregelada e sentir-me quente. Viva. Tu que me acompanhas ao longe como um mocho, que sabes sempre quando tudo começa a desmoronar-se, quando um golpe de estado estaria para acontecer se eu fosse um país, tu que lês pedidos de socorro no meu olhar e endireitas o meu pensamento cheio de viés, que limpas o pó da minha revolta como quem limpa o das prateleiras, que travas aqueles rebentamentos de lava num vulcao em ebulição e fechas a torneira da autopunição, tu que sabes que o mundo fica sempre aquém das minhas expectativas, mas fazes com que a vida pareça sempre mais fácil. Quando baixar a guarda, dou-te um abraço. Com juros.

quarta-feira, janeiro 13, 2010

I am still right here



Com a devida vénia ao Miguel. (Desculpa não ser no telemóvel)

terça-feira, janeiro 12, 2010

Taizé no Porto

[Irmão Roger, que tive o indizível prazer de conhecer em Taizé, em 1997,
dez anos antes de ser brutalmente assassinado]

De 13 a 16 de Fevereiro (de sábado a terça), milhares de jovens da Península Ibérica e do mundo vão reunir-se no Porto para celebrar as fontes da alegria, respondendo ao apelo da Comunidade de Taizé. A iniciativa partiu de D. Manuel Clemente, que convidou os irmãos de Taizé a trazerem a «Peregrinação de Confiança através da Terra» ao Porto.

A «Peregrinação de Confiança» foi lançada em 1978 pelo irmão Roger, fundador da Comunidade. Os últimos encontros europeus realizaram-se em Lisboa (2004), Milão (2005), Zagreb (2006), Genebra (2007) e Bruxelas (2008). Houve um encontro asiático em Calcutá (2006), um latino-americano em Cochabamba (2007), um africano em Nairobi (2008) e um ibérico em Sevilha (2009). No final do ano passado, estiveram reunidos 30 mil jovens em Poznan. Esta peregrinação consiste antes de mais numa atitude de encontro - com Cristo Ressuscitado e com os outros. Graças aos tempos de oração comunitária, cada um torna-se disponível para Deus. Através da partilha e da hospitalidade, todos aceitam ultrapassar barreiras e diferenças, de forma a poderem acolher-se e enriquecer-se mutuamente.

Durante as manhãs do Encontro, haverá tempo para rezar, meditar e conhecer a realidade concreta das paróquias acolhedoras. «A que tipo de felicidade aspiro?»; «O que posso fazer para que outras pessoas encontrem uma alegria de viver?» ou «Como podemos acolher com disponibilidade e abertura as dúvidas e a revolta daqueles que não acreditam?» são algumas das perguntas que vão interpelar os jovens durante estes momentos de partilha.

Nas tardes de domingo e segunda-feira serão propostos vários encontros temáticos. Cada participante poderá escolher o tema que vai mais ao encontro dos seus próprios interesses. Os workshops abrangem temas espirituais, sociais, culturais ou artísticos. «A fé não diz apenas respeito a um espaço religioso. Nada que afecte a qualidade de vida nos pode deixar indiferentes. A investigação científica, a expressão artística, um empenho político, sindical ou associativo, podem ser formas de servir a Deus.» - escreve o irmão Alois, sucessor do irmão Roger, na «Carta da China», que será distribuída a todos os participantes.

Na segunda-feira ao início da tarde, uma oração comunitária terá lugar em quatro igrejas históricas do centro da cidade. As igrejas de S. Lourenço, de S. Bento da Vitória, da Trindade e de S. João Novo, cheias de jovens, acolherão todos os que se queiram juntar a eles para este momento de oração meditativa e de louvor.

As orações da noite, às 21 horas, no Dragão-Caixa, serão os pontos culminantes do programa de sábado, domingo e segunda. O irmão Alois, prior de Taizé, fará uma meditação em cada uma destas orações. O programa detalhado do Encontro Ibérico no Porto estará disponível em www.taize.fr/porto no início de Fevereiro.

Nas duas semanas que precedem o Encontro Ibérico, de 1 a 13 de Fevereiro, dois irmãos de Taizé e um grupo de jovens voluntários vão animar uma oração quotidiana no centro do Porto. Todos os que estiverem interessados são convidados a partilhar estes momentos de paragem, que serão um apoio e um apelo a permanecer enraizados nas Fontes da alegria cristã: de segunda a sexta, às 19 horas, na igreja de S. José das Taipas (Rua Doutor Barbosa de Castro, 4050-090 Porto).

segunda-feira, janeiro 11, 2010

A moment, a love, a dream aloud, a kiss, a cry, our rights, our wrongs (won't stop til it's over)

[Olívia Bee]

"A ausência de talento é uma benção", diz T.S. Elliot.
"Mas custa a gente habituar-se a isso",
acrescenta Lobo Antunes.

domingo, janeiro 10, 2010

Apagão

É como se a bússula tivesse avariado, todas as lâmpadas fundido, o caminho desaparecido. Há feridas cíclicas por cicatrizar, tantas metas arrumadas sem cortar, o sangue sempre na primeira sala, o peso do mundo nos pés. Desistir devia estar à distância de um interruptor. Habituei-me a não falar como me habituei e não ir ao supermercado. A cabeça na almofada, o corpo no chão, a lareira acesa, a vida dormente, zigue-zague entre o medo e o medo. Sono desajustado, pesado, a qualquer hora. Deixar tudo para trás, lançar pessoas ao mar como quem liberta pesos de um navio a afundar. Um balão a esvaziar. Não nasci para vestir fato, para sorrir, para dançar. Para beber cerveja. Para celebrar a vida. Liberdade de prazeres solitários: um piano, uma tela, um livro, o mar. E o bosque. Não querer não acrescentar nada ao mundo, o desejo de ser invisível. Sempre a fugir, sempre a apagar. Ando à procura do que esqueci. Dos sonhos. Da certeza que chegaria lá, cá. Mas se até da voz me esqueci. Nevou na cidade e não fosse a televisão com as notícias obsessivamente em loop e não saberia. Também foi asssim com a trovoada antes do Natal. E com o terramoto. Não ouço nada, não vejo nada, não sei nada. Aprisionada em cento e cinquenta metros quadrados de alienação. Quando foi que tudo perdeu a piada?

Diálogos Pueris XXVI

Ele: Ficas assim só porque de repente reapareceu uma pessoa que fez parte da tua vida no passado?
Ela: Assim como? Feliz?
Ele: Feliz não, histérica!
Ela: Não estou histérica, estou feliz.
Ele: Seja, feliz. Nunca enterras as tuas histórias, pois não?
Ela: Nunca.
Ele: Mas parece que nunca deixas de gostar...
Ela: Claro, e nunca deixo.
Ele: Não entendo.
Ela: O que é que não entendes?
Ele: Não entendo quando percebo que, eventualmente, me compararás facilmente com outros a qualquer momento, bastando para isso que o rapazito de Nova Iorque passe do outro lado da rua.
Ela: Mas isso é ridículo, eu não fiz comparação nenhuma. Gostar muito de alguém não significa passar a gostar menos dos outros.
Ele: Se uma mulher me fizesse isso, se eu sentisse que uma mulher, a minha mulher, sentisse vontade, uma imensurável vontade, uma amantizada vontade de atravessar a rua para ir ter com outro, podes ter a certeza que desapareceria de ambos os passeios.
Ela: [gargalhada] Estás a distorcer. Quem é que falou numa amantizada vontade?! Eu gosto de todas as pessoas com quem vivi. Devia odiá-las?! Porquê, se não me fizeram mal nenhum?!
Ele: Romântica essa tua ideia, sem dúvida! É um bocadinho como o comunismo, coisa bonita, somos todos iguais e trá lá lá, cantando e rindo, mas depois vai-se a ver, e uns trabalham mais que os outros e talvez por isso uns devessem ganhar mais do que os outros, não?
Ela: Tu queres que eu desvirtue as pessoas, que as substime, que apague uma parte da minha vida só para provar que agora é que é a sério e importante. E isso eu não faço. Nunca fiz; nunca farei.
Ele: A tua ideia é comunista, o teu amor é vermelho, é marxista-leninista, é de foice, todos os teus amores - dizes - devem ser por igual. Não dás mais atenção, mais salário a nenhum deles. É tudo por igual! Mas há uns que trabalham mais, que fazem mais por ti, que te dão mais. E tu não queres saber, estás a dizer que são todos iguais!
Ela: Não estou a dizer que são todos iguais! Estou a dizer que são todos importantes!
Ele: E eu estou a dizer que isso, sendo romântico, é impossível!!!
Ela: O quê? Continuar a gostar?
Ele: Sim, dessa forma, não! Devias arrumá-los bem num canto do sótão, ok, não os tirando de lá se não quiseres, mas percebendo que aquilo é um quadro bonito que te faz se calhar sorrir quando olhas para lá, mas que está agora inerte, fixo, imutável.
Ela: Belo, vamos apagando o caminho, matando pessoas. Olhas para trás e vês um cemitério de afectos. É isso?
Ele: Esquece, és palerma, mimalha, bipolar! E a culpa é dessas tuas histórias!

A menina

[Olivia Bee]


Naquele dia, ela viu-se, e com ela a mãe, ambas dentro de um ecrã de televisão ligada em horário nobre na província das telenovelas más. "Queres ficar aqui com o teu pai ou ir embora com a mãe?" Silêncio de cristal no corpo da menina, ruído ensurdecedor dentro da sua minúscula cabeça. O que é que se responde quando a vida imita uma coisa que ensinaram a acreditar que é só a fazer de conta? Como é que aos seis anos se sabe destrinçar a verdade da mentira? Alguém mente, mas quem? A televisão ou a vida? "Hã?! Diz lá, tens de escolher". A voz da mãe, impaciente, as mãos nas malas, o sol a pôr-se ao fundo das escadas. As duas ali à porta de casa como quem prepara um assalto. E a menina a pensar que daria tudo para não estar naquela posição. "Quero que fiques aqui, que fiques com o pai", diz a engolir as palavras, a certeza da resposta errada. "Hã?! Não ouvi nada. Fala alto, fala direito, já não és uma menina". Já não sou uma menina, pensou a menina. Tenho seis anos, sou o quê, então?

sábado, janeiro 09, 2010

A fronteira do amanhecer



Quando estreou, em 2008, a crítica, quase toda, arruinou o filme de Philippe Garrel. Que era anacrónico, que era pretensioso, que representava o pior do cinema francês. Não vimos "A fronteira do amanhecer" quando estreou, porque ao Porto, como se sabe, não chega o cinema de autor - nem o cinema de autor nem a Cinemateca! Vimos agora em DVD. Podemos arruinar a crítica? O filme não é fácil, mas é belíssimo. E sim, perturbado.

sexta-feira, janeiro 08, 2010