Tive professores maravilhosos e professores que se não sabiam menos que nós, disfarçavam muito bem. Tive professores responsáveis e professores para quem tanto fazia se entraríamos na universidade ou não. Na dúvida, no início do 12º ano, decidi que prepararia eu, sozinha, os meus exames, chamavam-se provas específicas. Em nenhum dos cursos que queria, e só queria um de dois, conseguiria entrar com menos 70% de média. Precisava que duas provas me corressem extraordinariamente bem, inscrevi-me em quatro. Preparei-as ao milímetro no calendário, entre a primeira e a segunda fase, com os minutos de descanso e de trabalho minuciosamente divididos pelos dias. Obcecada. Tinha só uma certeza: entraria na universidade pública ou não entraria em sítio nenhum.
Uma greve ter-me-ia arruinado completamente o esquema de trabalho e a meta.
Correu bem, entrei no curso que queria, tenho a profissão que escolhi, ganho menos do que seria justo, não sou aumentada há seis ou sete anos, trabalho mais de 40 horas por semana, tenho hora de entrar, nunca tenho hora para sair. E quando for dispensada, como vi colegas serem de forma tão cruel e injusta, não haverá mobilidade que me valha, como a eles nada lhes valeu. E alguns fazem tanta falta.
Respeito o direito à greve, não consigo respeitar professores que fazem greve em dia de exames nacionais. Um professor que não respeita um aluno é uma incompreensível contradição. Como escrevia Miguel Sousa Tavares, anteontem, no Expresso: "Não contesto que as greves, por natureza, causem incómodos a outrém - ou não fariam sentido. Mas há limites para tudo. Limites de brio profissional: um cirurgião não resolve entrar em greve quando recebe um doente já anestesiado pronto para a operação."
Também não gosto de greves dos professores em dias de exames. E passei por uma quando me candidatei, como tu, à faculdade.
ResponderEliminarComo tu, preparei durante um ano as provas específicas. E também como tu precisava de 70,8% de média final (secundário, prova de aferição e específicas) para entrar na faculdade.
Também estava convencido que só entraria na Pública ou não entraria em nenhuma. Tinha média para isso.
No dia em que fui fazer a específica de Filosofia, a sala onde eu estava foi invadida por alunos de outras salas que não tinham podido fazer o exame. Acabei por não fazer a específica naquele dia e, realmente, acabei (por escassas décimas), por não entrar na pública. Porque uma semana depois quando fui (re)fazer a específica que não fizera uma semana antes, aquilo já não correu como era suposto, simplesmente porque tinha passado o momento. E, portanto, de uma prova que tinha a minha cara, acabei por fazer outra que não deu a nota que precisava. Aliás, deu muito menos do que era normal. Foi a greve. Não tenho dúvidas.
É isso que uma greve de professores em dia de exame faz a um aluno. E não é fixe.
Acontece que.... nada na vida é absoluto. Muito menos uma greve de professores. E se há coisa que tenho aprendido é que, desde que queiramos, há sempre volta a dar. Excepto à morte.
Não entrei na pública, mas fui para a privada. A conselho da minha mãe que, cautelosa, me empurrou para os exames de acesso a essa outra. Que afinal foi (era) a melhor para o curso que tirei. E onde até havia menos vagas.
Isto para dizer que na vida só é definitivo o que quisermos deixar que seja. Ou, em última instância, as coisas só dependem mesmo de nós. E é nisso que devemos acreditar. Nós.