segunda-feira, março 26, 2012

Ivan Búnin: O amor de Mítia


"O que foi para ele aquela Primavera, e sobretudo aquele dia, quando o vento dos campos lhe soprava tão frio na cara, quando o cavalo, vencendo o caminho através das aradas negras e dos restolhais saturados de água, respirava ruidoso pelas narinas largas, bufando e rouquejando a plenos pulmões, com uma magnífica força selvagem? Parecia-lhe então que aquela Primavera, precisamente aquela, com os seus dias repletos de paixão por qualquer coisa e por alguém, em que ele amava todas as colegiais e todas as raparigas campónias do mundo, é que era o seu verdadeiro primeiro amor. Mas como aqueles tempos lhe pareciam agora tão distantes! Na altura ainda um rapazinho, inocente, crédulo, pobre nos seus modestos sonhos, tristezas e alegrias! Um sonho, ou antes, a recordação de um qualquer sonho maravilhoso era, então, o seu abstracto e incorpóreo amor."

[o primeiro escritor russo a ganhar o Nobel, em 1933. Escreveu o poeta Alexander Tvardóvski sobre este livro: "O que mais nos espanta aqui é esta arte antiga dos que sabem amar até ao fim e a que Búnin deu corpo quase só com a descrição da natureza de que nos fala: uma Primavera a florescer pode ser pujante de felicidade e de adjectivos gloriosos se o amor está perto, mas pode ser terrível e de adjectivos arrepiantes se o amor está longe."]

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