"Revi milhares de imagens e, de repente, uma sensação parecia atravessar a maior parte delas: eu estava ali de passagem. É o principal sentimento que me fica depois desta incursão em quarenta anos de vida e de memória. Fico com a impressão de que passei pelo mundo, cidades e campos, homens e mulheres, sempre distante. Parece que nunca pertenci. Que nunca fiz fotografias "de dentro", que nunca me integrei. Em frente, atrás ou de lado, mas sempre distante. Esta distância tem que se lhe diga. Em cada momento, estava lá. Com outros, graças a outros. Mas não pertenci."
Há poucos homens que admire mais em Portugal do que António Barreto. Dele se soube sempre que fotografava. Mas as imagens quase nunca tinham sido vistas. Não seguramente desta forma. O livro que, finalmente, decidiu publicar em Outubro do ano passado é tão bonito que só pode contrariar o texto, lindíssimo, que o próprio escreve: uma imagem pode mesmo comover mais do que a palavra. Por muito "rápida, imediata e sensorial" que seja a primeira; e "complexa, durável e reflectida" a segunda. Mas numa coisa estamos de acordo: "Muitas vezes, a fotografia revela mais a identidade do fotógrafo do que o carácter das pessoas ou das coisas fotografadas". António Barreto estará inteiro nesta colecção de, como diz, "destroços". É um absoluto privilégio assistir ao patchwork que com eles conseguiu fazer.
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