Soube sempre que queria salvar vidas. Órfã de pai, mãe em parte incerta, foi adoptada por um casal do Porto que a ajudou a encobrir o problema da asma para que pudesse integrar o corpo da Guarda Nacional Republicana. “Podia ter sido outra coisa qualquer; o que quisesse ser. Mas só queria ser agente da GNR”. Carla Alexandra, “menina cheia de coragem e boa disposição”, tinha 21 anos quando saiu de Gaia para começar a patrulhar as ruas de Lisboa. O sonho parecia cumprido.
Há três anos, numa tarde de Agosto, sentada numa esplanada da Ribeira, anunciava ao pai que a criou a intenção de casar quando sofreu novo ataque de asma. Esquecera-se da imprescindível bomba de oxigénio em casa. Ligaram para o INEM; ninguém atendeu. A ambulância haveria de aparecer nove minutos depois. Mas o cérebro só aguenta quatro minutos sem receber ar. Entrou em paragem cardio-respiratória, tombando para um estado de coma vegetativo do qual nunca mais saiu. Tem 26 anos.
Sem irmãos, sem pais biológicos, sem mãe adoptiva – que, entretanto, faleceu –, com o tutor de sempre à beira dos 80 anos, Carla ficou entregue ao Hospital Militar até a tia Manuela, mulher de coragem e abnegação superior, ter decidido trocar a sua vida pela vida da sobrinha.
“Era encarregada geral dos CTT, ganhava 850 euros”. Despediu-se. Os cuidados de que Carla necessita não se compadecem com horários de trabalho. “Pedi à Câmara uma casa maior – tinha um T2 –; deram-me um apartamento, no Bairro da Boa Nova, em Gaia, que havia sido habitado por uma família de etnia cigana. Estava todo destruído. Mas a autarquia não aceitou pagar as obras de remodelação”.
Manuela, 44 anos, gastou os 15 mil euros que juntou ao longo de uma vida inteira – ela e o marido, varredor de ruas –, a adaptar a habitação. Ficou sem verba para casar a filha, única, que agora vai adiando o matrimónio. Mas ficou, sobretudo, sem dinheiro para comprar o aparelho respiratório de que Carla necessita para viver. O que tem não cobre sequer o que gasta com a medicação da sobrinha, que absorve mais de 400 euros por mês. O marido “tenta fazer cada vez mais horas extraordinárias, mas o dinheiro não estica”.
O aparelho custa 1500 euros; o que têm alugado custa-lhes 200 euros todos os meses. Fraldas, resguardos e pomadas têm sido oferecidos pela Associação de Solidariedade “Ponto de Ajuda”. Os médicos dizem que Carla pode viver mais 50 anos, inerte, na cama. A Manuela vaticinam, desde 1995, apenas, 15 dias de vida. Doente crónica renal, foi-lhe diagnosticado um tumor no fígado; outro no intestino. Recusa tratamentos. Diz que não pode ausentar-se de casa. Vai assinando termos de responsabilidade, uns a seguir aos outros, para sair do hospital de cada vez que tem uma crise. Não quer largar a sobrinha.
Chama-lhe princesa, enceta batalhas de narizes, brinca com ela, liga a aparelhagem durante o dia, enche-lhe o quarto de cor. Dorme ali, no chão, todos os dias, em vigília permanente. Depois de amanhã, Carla será submetida a uma cirurgia ao estômago. Manuela aproveitará a ocasião para retirar a vesícula. “Não vou morrer. Quem tomaria conta da Carla?”
Há três anos, numa tarde de Agosto, sentada numa esplanada da Ribeira, anunciava ao pai que a criou a intenção de casar quando sofreu novo ataque de asma. Esquecera-se da imprescindível bomba de oxigénio em casa. Ligaram para o INEM; ninguém atendeu. A ambulância haveria de aparecer nove minutos depois. Mas o cérebro só aguenta quatro minutos sem receber ar. Entrou em paragem cardio-respiratória, tombando para um estado de coma vegetativo do qual nunca mais saiu. Tem 26 anos.
Sem irmãos, sem pais biológicos, sem mãe adoptiva – que, entretanto, faleceu –, com o tutor de sempre à beira dos 80 anos, Carla ficou entregue ao Hospital Militar até a tia Manuela, mulher de coragem e abnegação superior, ter decidido trocar a sua vida pela vida da sobrinha.
“Era encarregada geral dos CTT, ganhava 850 euros”. Despediu-se. Os cuidados de que Carla necessita não se compadecem com horários de trabalho. “Pedi à Câmara uma casa maior – tinha um T2 –; deram-me um apartamento, no Bairro da Boa Nova, em Gaia, que havia sido habitado por uma família de etnia cigana. Estava todo destruído. Mas a autarquia não aceitou pagar as obras de remodelação”.
Manuela, 44 anos, gastou os 15 mil euros que juntou ao longo de uma vida inteira – ela e o marido, varredor de ruas –, a adaptar a habitação. Ficou sem verba para casar a filha, única, que agora vai adiando o matrimónio. Mas ficou, sobretudo, sem dinheiro para comprar o aparelho respiratório de que Carla necessita para viver. O que tem não cobre sequer o que gasta com a medicação da sobrinha, que absorve mais de 400 euros por mês. O marido “tenta fazer cada vez mais horas extraordinárias, mas o dinheiro não estica”.
O aparelho custa 1500 euros; o que têm alugado custa-lhes 200 euros todos os meses. Fraldas, resguardos e pomadas têm sido oferecidos pela Associação de Solidariedade “Ponto de Ajuda”. Os médicos dizem que Carla pode viver mais 50 anos, inerte, na cama. A Manuela vaticinam, desde 1995, apenas, 15 dias de vida. Doente crónica renal, foi-lhe diagnosticado um tumor no fígado; outro no intestino. Recusa tratamentos. Diz que não pode ausentar-se de casa. Vai assinando termos de responsabilidade, uns a seguir aos outros, para sair do hospital de cada vez que tem uma crise. Não quer largar a sobrinha.
Chama-lhe princesa, enceta batalhas de narizes, brinca com ela, liga a aparelhagem durante o dia, enche-lhe o quarto de cor. Dorme ali, no chão, todos os dias, em vigília permanente. Depois de amanhã, Carla será submetida a uma cirurgia ao estômago. Manuela aproveitará a ocasião para retirar a vesícula. “Não vou morrer. Quem tomaria conta da Carla?”
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